Livro sustenta que pautas identitárias parecem de
esquerda, mas na verdade foram colonizadas por ideologias de direita
"A Esquerda Não É Woke", de Susan Neiman, tenta pôr um pouco de ordem filosófica à
barafunda conceitual que se tornou o mundo moderno. Neiman critica as ideias
que aparecem sob o rótulo de pensamento woke, por vezes também chamado de identitarismo, mas o faz com uma perspectiva de esquerda
raiz (ela se declara socialista), o que a distingue de autores que foram por
esse mesmo caminho com uma pegada mais conservadora (James Lindsay e Helen
Pluckrose) ou liberal (John McWhorter e Yascha Mounk).
Para Neiman, o, vá lá, wokismo parece de esquerda porque surgiu de emoções
originalmente ligadas a essa corrente política, como empatia para com os marginalizados, indignação em
relação ao destino dos oprimidos e vontade de fazer justiça. Mas emoções sem um
pouco de razão para ordená-las são um perigo.
De acordo com a autora, se analisarmos mais
detidamente as bases teóricas do wokismo, veremos que elas são reacionárias e
não de esquerda. O movimento, ela afirma, foi "colonizado" por ideologias de direita, que essencializam o tribalismo,
identificam poder a força e também abraçam uma espécie de pessimismo
metafísico. Os alvos preferenciais de Neiman são Carl Schmitt, o jurista
nazista, Michel Foucault e a psicologia evolutiva, que de maneira mais direta ou
indireta influenciam acultura contemporânea.
Para Neiman, existem três princípios dos quais a esquerda
não pode de maneira nenhuma abrir mão: compromisso com o universalismo, uma
distinção forte entre justiça e poder e a crença na possibilidade de progresso.
Não vemos nenhum dos três nas variedades mais frequentes de movimentos identitários.
O texto de Neiman é didático e agradável de ler e ela é bem
transparente em relação a suas preferências políticas, que nunca entram de
contrabando, sendo sempre explicitadas.
Mesmo que você discorde dos pressupostos da autora, é um
livro valioso, especialmente neste momento em que a esquerda, após dolorosas derrotas eleitorais, deve passar por um processo
de autocrítica, se é lícito utilizar o vocabulário stalinista.
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