sexta-feira, 22 de novembro de 2024

BOLSONARO NA PORTA DA CADEIA

Vinicius Torres Freire, Folha de S. Paulo

Com Bolsonaro na porta da cadeia, direita antecipa debate de candidatos e de 2026

Mais do que rever nomes, deve haver revisão de alianças e até de relação com Lula 3

Acreditar que Jair Bolsonaro pudesse ser candidato a presidente da República em 2026 era risco óbvio para quem aderisse à ideia, na prática. Mas também era ou talvez ainda seja um projeto. O plano unia a extrema direita no Congresso e nas redes a partes dos centrões e direitões na Câmara e no Senado.

A convergência de propósitos criava alguns empecilhos para outras candidaturas a presidente em 2026, a começar por limitar adesões imediatas, um início de discussão de acordos e testes mais sérios de nomes. Talvez fosse impedimento temporário, mas impedimento havia.

Bolsonaro está no caminho da porta da cadeia, assim como duas dúzias de militares. Note-se, de passagem, que, entre os 37 indiciados, há cinco oficiais-generais de quatro estrelas e pelo menos 13 coronéis e tenentes-coronéis. Era um golpe militar, de militares marginais como Bolsonaro, do qual se aproveitariam os civis espertos de sempre. Passemos.

Falta muito até que tranquem Bolsonaro, se for essa a decisão, se não houver uma anistia informal (em vez de cadeia, pena alternativa). Mas ele não vai escapar de ser ao menos denunciado, processado e julgado. Vai ocupar o tempo da política. A convergência golpista, de bolsonaristas à direita anistiadora, vai ter de pensar na vida. Não se trata apenas de achar candidato. Mas de reconfigurar o projeto e suas lideranças.

Por ora, o pessoal está quieto e conversando em grupinho. Além do mais, estavam preocupados com o seu ganha-pão, as emendas parlamentares.

O fim de ano será movimentado: votação do Orçamento, o plano fiscal de Fernando Haddad, articulação final e distribuição do butim da eleição do comando de Câmara e Senado etc. A atitude da turma nessas votações pode indicar reconfiguração de conversas e amizades.

Os agregados menos extremistas do bloco, que inclui o PP, podem pensar em alianças mais seguras. Os partidos do centrão que mantém um pé e o coração na direita e uma mão no governo podem pensar até em mais demonstrações (rendosas) de simpatia por Lula. Essa é a hipótese racional. Sempre se pode pensar em um contra-ataque suicida. Não parece provável.

Valdemar Costa Neto, presidente ou CEO do PL de Jair Bolsonaro e grande abrigo da extrema direita, pode pegar sua segunda temporada de cadeia. Se inabilitado ao menos por risco de falta de futuro, haverá problemas para a definição de rumos também do PL. Que é primo-irmão do PP. Os dois partidos governavam o semipresidencialismo de avacalhação que foi o governo das trevas (2019-2022).

O pessoal no mínimo vai ficar distraído e pensar no futuro. Haverá incerteza e risco maior —maior probabilidade de perdas, portanto. O governo Lula poderia pensar no assunto. Parece óbvio, mas, francamente, não se vê o governo reagir a certas obviedades desde que tomou posse (como o Congresso mais direitista, em números e ideias, de que se tem memória). Deve aumentar o número de parlamentares propensos a mudar de barco, a serem mais simpáticos com o governo.

Por ora, muita gente do centrão-direita não quer lançar Tarcísio de Freitas (Republicanos) nessa eleição, a não ser em caso de naufrágio de Lula, uma hipótese muito arriscada até para a direita odienta. Mas não há ânimos maiores pelos outros nomes, que precisariam ser de alguma maneira referendados, jogados na praça, testados. Dá trabalho, é risco.

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