Inflação de alimentos não para, republicano anuncia
confusão, dólar fica nas alturas
Donald
Trump já prometeu aumentar imposto sobre produtos importados de México, Canadá
e China. Mais do que nunca, guerra comercial de outros países deixou
de ser assunto distante da nossa vidinha de ir ao supermercado e de pagar
contas. A depender do que o presidente eleito dos EUA de fato vier a fazer, o
conflito no comércio pode derrubar uma sequência de dominós que vai afetar o
preço do dólar aqui e, pois, a inflação.
O caldo econômico pode ficar azedo para a política, para o
governismo. A carestia não está descabelada. Mas o IPCA está bem acima da meta
do Banco Central. Inflação
perto de 5% neste ano aumenta a "inércia" (remarcação de
preço pela inflação passada, por hábito ou por contrato).
É muito provável que a Selic, a
"taxa do BC", passe a subir mais rapidamente (0,75 ponto percentual,
em vez de 0,5). Mesmo que o pacote
fiscal de Fernando Haddad seja razoável, não vai provocar grande
descompressão em juros e
dólar. De resto, o efeito deve demorar um pouco a aparecer porque o pacote
depende do Congresso. Enfim, os credores do governo ("mercado")
esperam agora apenas um bom remendo que dure até 2026; que a discussão de
conserto maior e com efeito positivo maior virá apenas em 2027. Próximo
governo.
O dólar já viajou para a casa dos R$ 5,80, onde estacionou.
Em meados do ano, R$ 5,40 era considerado um preço preocupante para a inflação.
Pois bem. O dólar caro já aparece nos preços mais altos para o consumidor.
Em
novembro, a inflação foi a 4,8% ao ano (na medida do IPCA-15). A meta
é 3%. A inflação da comida ("alimentação no domicílio") chegou a 7,7%
ao ano (carnes em alta de mais de 11%; café, mais de 30%; arroz, quase 20%).
Era zero em janeiro.
Parte dessa alta é efeito de seca sobre rebanhos, sobre o
preço da eletricidade ou de tempo ruim para outras culturas.
O efeito da seca pode refluir. No entanto, sem arrumação na
política fiscal (gasto e receita), o dólar caro pode anular essa melhora. Mas o
dólar vai também depender muito do tumulto que Trump pode vir a causar.
Trump é negociador e jogador. Talvez tenha desde já ameaçado
México e Canadá com aumento de impostos de importação ("tarifas") a
fim de conseguir a barganha que pretende, exigindo enfim uma alta de imposto
menos drástica até mesmo da China. Mas Trump ameaça os três países de que mais
os americanos compram bens, quase 45% do total das importações. Impostos mais
altos vão chegar aos preços.
É preciso lembrar que os EUA têm acordo de livre-comércio
com México e Canadá, nem tão livre assim depois da revisão de 2020, exigida por
Trump 1. Se bate assim em parceiros enormes e vizinhos, o que fará com o
restante do mundo?
Trump
é imprevisível. O tempo para a agropecuária e para o lago das usinas
hidrelétricas também. Se não há folga para acomodar esses e outros possíveis
choques, há risco de inflação maior. É onde estamos agora.
Uma folga pode advir da decisão de contar o ritmo do aumento
de gastos. De outro modo, vai depender de taxas de juros de curto prazo, do BC,
de Selic bem mais alta: 14%? As taxas de prazo mais longo na praça financeira
já estão em níveis de arrocho e de alta feia dos custos de financiamento do
governo.
Não há mais gordura para queimar, para erros. Podemos ter
sorte: mais chuva, menos trumpismo. Vamos arriscar?
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