Washington Post e Los Angeles Times enfrentam revolta de
assinantes por decisão editorial de não chancelar nome de Kamala Harris
Contrariando prática adotada desde 1976, o jornal The
Washington Post decidiu que nestas eleições não
apoiará nenhum candidato presidencial. Ato contínuo, perdeu 250 mil assinantes,
10% de sua carteira. O Los
Angeles Times, pela mesma decisão, enfrentou a mesma fúria, mas com perdas
menores: 2% das assinaturas.
Jornais devem apoiar candidatos? Não importa qual posição o
veículo abrace, ele terá problemas. A opção pelo apoio, o
"endorsement" como dizem os periódicos da anglosfera, onde a prática
é mais disseminada, gera desconfianças. Embora órgãos da chamada "quality
press" se esforcem para separar textos noticiosos dos opinativos, isso nem
sempre é percebido pelo leitor, que pode achar que, se o jornal prefere o
candidato X, então tudo o que ele publica visa a beneficiar esse postulante. Assim,
nada do que sai em suas páginas é digno de crédito.
A opção por neutralidade leva ao mesmo
lugar. A prática pode ser descrita como uma recusa ao paternalismo e uma aposta
na autonomia, mas especialmente em pleitos em que um dos candidatos é
objetivamente pior ou mais perigoso que o outro, não declará-lo pode ser
interpretado como uma tentativa de ludibriar o leitor. O veículo teria uma
posição, que não é difícil de inferir por seus editoriais, mas se recusa a
partilhá-la com os leitores. E, se está tentando enganar nisso, por que não o
faria em outros assuntos?
A moral da história é que, não importa qual posição de
princípio o jornal adote (ambas legítimas, embora eu prefira o
"endorsement"), parte do público vai interpretá-la como sinal
inequívoco de que o veículo tenta manipulá-lo. É do jogo. Num mundo em que
todos tivessem o dom da clarividência e sempre compreendessem tudo
corretamente, a política nem seria uma preocupação.
O Post e o Times erraram no timing. Se você vai mudar sua
política editorial, escolha uma eleição bem morna para fazê-lo. O fato de os
jornais não terem chancelado Harris,
como esperava seu público, foi, de modo previsível, lido como apoio tácito
a Trump,
motivo da revolta.
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