Morte em São Paulo e ferimentos a bala no Rio expõem
treinamento falho de policiais para proteger os cidadãos
Na madrugada do último dia 20, o estudante de Medicina Marco
Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto com um tiro disparado por um PM
durante abordagem num hotel na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo. No dia
seguinte, Sara
Regina Cardoso Coelho, de 28 anos, foi baleada em seu carro no Méier,
Zona Norte do Rio, quando voltava com o marido de uma visita à filha de 5 anos
internada num hospital. Segundo a família, os tiros que atingiram o veículo
partiram do local onde estava um grupo de policiais. A própria PM informou que
eles participavam de uma abordagem quando houve confronto. Os episódios põem em
xeque o treinamento de agentes públicos contratados para proteger os cidadãos.
No caso de Marco Aurélio, não se ignoram as condições da
morte. Segundo os policiais, o estudante estava em estado alterado e agressivo.
Passou pela viatura da PM e deu um tapa no retrovisor, como mostram imagens de
câmeras de segurança. Depois correu para dentro de um hotel e foi perseguido
pelos agentes. Durante a abordagem, puxou a perna e derrubou um PM. Mas nada
disso justifica que o jovem, desarmado, fosse alvejado com um tiro à
queima-roupa na altura do peito. Especialmente quando os policiais dispunham de
arma não letal para dominá-lo. “O que justifica matar um menino de 22 anos,
caído, sem camiseta, que não tem onde ocultar uma arma? O que está acontecendo
com a polícia brasileira?”, indagou a mãe, Silvia Mônica Cardenas Prado.
A ação tem gerado questionamentos. O ouvidor das polícias de
São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, ressaltou que os agentes não fizeram uso
progressivo da força, como determinam as normas da PM. Embora os policiais
estivessem com câmera no uniforme, o Boletim de Ocorrência informa que não
usavam o equipamento. Eles foram afastados até o fim das investigações. Ainda
que comprovada a culpa dos agentes, o crime já foi consumado.
No caso da mulher ferida no Rio, a PM informou ter
instaurado procedimento para analisar as circunstâncias. Disse que um fuzil
usado na operação foi recolhido. Chama a atenção que as câmeras dos policiais
não estivessem funcionando, embora sejam de uso obrigatório. Casos assim não
são incomuns. Dias antes, o motorista de aplicativo Bruno Bastos, de 46 anos,
foi baleado de raspão por PMs em Inhaúma, na Zona Norte do Rio, ao abastecer o
carro. A mulher de Bruno disse suspeitar que os policiais tenham confundido o
veículo. O caso está sob investigação.
Parece claro que há falhas no treinamento da polícia e nas
diretrizes das políticas públicas de segurança, tanto em abordagens quanto em
situações que exigem prudência. Compreende-se que as grandes cidades registram
índices de violência preocupantes,
e policiais estão sempre na linha de tiro. A sociedade exige ação firme contra
o crime. Mas existem protocolos justamente para proteger a vida de inocentes.
Operações não podem ser guiadas pela truculência ou pelo abuso. A missão do
policial é proteger o cidadão, não ameaçá-lo.
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