Petro teve a intuição correta, mas, para enfrentar abusos
de Trump, seria necessária uma ação coordenada de vários países, o que é quase
impossível
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro,
até que tentou peitar Donald Trump na
questão dos voos de repatriação em que os deportados viajam algemados e são
submetidos a outros tratamentos degradantes absolutamente desnecessários. A
valentia do colombiano não durou um dia.
Como resposta à negativa de Bogotá de receber os voos, a
Casa Branca anunciou
que iria impor uma tarifa alfandegária de 25% a produtos colombianos,
que passaria a 50% na semana seguinte. Petro rapidamente recuou e Washington
suspendeu as sanções.
Em relações internacionais, Trump age
como um troglodita. A questão que se coloca para o mundo então é a de como
lidar com um valentão não cooperativo. Não é um problema novo. Como
descendentes de primatas gregários, convivemos com esses dilemas há milhões de
anos. Eles já estão bem mapeados pela biologia matemática.
Simplificando a história, a cooperação só é possível se
conseguirmos disciplinar quem não sabe viver em grupo. E o modo de fazê-lo é
através de respostas que envolvem algum tipo de reciprocidade, direta ou
indireta. Na literatura, as estratégias vencedoras ganham nomes como
"tit-for-tat" e "win-stay, lose-shift".
Uma das marcas dessa teoria dos jogos que já vem embutida em
nossas mentes é a disposição que temos em punir trapaceiros mesmo que
precisemos pagar um preço por isso. Vários experimentos psicológicos mostram
que temos essa tendência.
Basicamente, Petro teve a intuição correta, mas só a
Colômbia não basta. Para enquadrar Trump, vários países teriam de agir de forma
coordenada. Imagine todas as nações latino-americanas bloqueando as
deportações, o Panamá fechando
o canal para navios americanos, a Dinamarca
e a Groenlândia mandando Washington desativar a base aérea de Thule, e
vários países impondo taxas a produtos americanos.
É mais ou menos zero a chance de isso acontecer. Os próximos
anos serão marcados pelo bullying diplomático. Minha aposta, porém, é a de que
a democracia americana mais uma vez sobreviverá a Trump.
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