O novo ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, não
dará conta do recado sem uma reversão da inflação, que está sendo prevista para
5,5% neste ano
Estava escrita nas estrelas a queda de popularidade do
governo, o que torna a conjuntura política desfavorável à reforma ministerial,
cujo foco seria a reeleição do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e agora terá de se restringir à preservação de
sua governabilidade. A aprovação do trabalho do chefe do Executivo, na
Pesquisa Genial/Quaest divulgada
nesta segunda-feira, mostra que sua popularidade recuou de 52% para 47% em
relação a dezembro. A desaprovação de Lula foi superior: subiu de 47% para 49%.
A avaliação negativa do governo, que saltou de 31% para 37%,
enquanto a positiva recuou de 33% para 31%, também de dezembro a janeiro, puxam
a popularidade de Lula para baixo. O quadro é mais grave porque o presidente
perdeu força junto aos seus eleitores mais fiéis, os nordestinos, as mulheres e
os brasileiros de baixa renda. No Nordeste, a avaliação positiva despencou de
67% para 49%: a negativa subiu de 32% para 37%.
Em relação às mulheres, a aprovação de Lula
caiu de 54% para 44%, e a desaprovação subiu de 44% para 47%. Entre os
eleitores de baixa renda, a aprovação de Lula caiu 7 pontos (de 63% para 56%) e
a aprovação subiu de 34% para 39%. São dados preocupantes, que deixam o governo
na defensiva. Para 50% dos entrevistados, o Brasil está indo na direção errada,
4 pontos acima dos 46% na pesquisa anterior. Para 39% dos eleitores, o país
está na direção certa, porém abaixo dos 43% de dezembro.
A pesquisa mostra que Lula não consegue cumprir suas
promessas, patamar que chegou a 65%. A comunicação tem culpa no cartório,
porque as notícias negativas (43%) suplantam em muito as positivas (28%). Mas
de nada adianta matar o mensageiro, o fato que mais impactou a popularidade do
governo foi a polêmica sobre o Pix, uma grande trapalhada da Receita Federal e,
depois, do Palácio do Planalto. Essa avaliação é corroborada por 66% dos
brasileiros, para os quais o governo errou mais do que acertou.
A economia é o calcanhar de Aquiles de Lula: apenas 25%
avaliam que a situação melhorou. Essa percepção, para 83% dos brasileiros, é
atribuída ao preço dos alimentos. A manobra do governo aventada para mitigar a
inflação de alimentos, alterar a validade dos produtos (o que poria em risco a
saúde da população), foi rejeitada por 63%. Seria mais uma medida populista com
efeito bumerangue. A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre 23 e 26 de
janeiro, com 4.500 entrevistas presenciais e margem de erro de 1,00 ponto
percentual, para mais ou para menos.
2026 à vista
Parece que o presidente Lula ainda não se convenceu de que é
preciso atacar a causa estrutural da inflação e não apenas os seus efeitos,
esse é o fator eleitoral decisivo, muito mais importante do que os demais.
Voltando no tempo, a subestimação do impacto do ajuste fiscal na queda da
inflação nas eleições de 1994, quando era franco favorito à Presidência, fez
Lula perder aquelas eleições para Fernando Henrique Cardoso, ministro da
Fazenda do governo Itamar Franco. Apesar do duro corte de gastos, o Plano Real
mudou da água para o vinho a vida dos brasileiros pobres, que perdiam poder
aquisitivo diariamente. O frango a R$ 1 simbolizava aquele momento em que
alimentação estava muito barata. Influenciado por economistas do PT, Lula não
apoiou o Plano Real.
A comunicação do governo, a cargo do novo ministro Sidônio
Palmeira, não vai dar conta do recado sem uma reversão da inflação, que está
sendo prevista para 5,5% neste ano, mais que o dobro da taxa projetada de
crescimento e três vezes o aumento previsto do salário mínimo. A resistência de
Lula a reduzir os gastos do governo é o principal fator de desconfiança no
mercado, com o agravante de que chegou à base da população, por sinais efetivos
ou imaginários de que o governo pretende aumentar a arrecadação à custa dos
assalariados e empreendedores, em vez de cortar despesas desnecessárias e/ou
supérfluas para equilibrar as contas públicas.
Isso significa que o governo Lula entrará em colapso? Não,
continua sendo a forma mais concentrada de poder e tem meios efetivos para
manipular a economia no curto prazo, com medidas populistas. Mas a conta sempre
chega salgada, não existe almoço grátis, como dizem os economistas liberais.
Por isso, a conjuntura é complicada para Lula. A oposição está com sangue nos
olhos e o momento não é dos melhores para negociar com aliados uma reforma
ministerial.
Na última reunião com seus ministros, Lula avaliou que as
eleições de 2026 já começaram e que precisará saber com quem poderá contar. Foi
um erro pôr as coisas nesses termos agora, porque ninguém sabe o que pode
acontecer até o próximo ano, sobretudo depois de Donald Trump assumir a
Presidência dos Estados Unidos. No plano das incertezas também estão as
relações de Lula com os novos presidentes da Câmara, provavelmente Hugo Motta
(PR-PB), o candidato de Arthur Lira (PP-AL); e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP),
que também presidirá o Congresso.
A propósito, Lira e Pacheco são players de uma eventual
reforma ministerial, mas as bancadas do Centrão estão com o cacife mais alto do
que Lula esperava antes da divulgação da pesquisa. Especula-se que o projeto de
reforma ministerial de Lula seria trazer os caciques das legendas dos partidos
para dentro do governo, entre os quais o presidente do PSD, Gilberto Kassab, o
mais camaleônico articulador do cenário eleitoral de 2026. No momento, Lula não
tem força para isso.
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