quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

MINISTÉRIO DA REELEIÇÃO

Bernardo Mello Franco, O Globo

Diz o dito popular que a propaganda é a alma do negócio. O presidente Lula parece acreditar nisso. Vai dar um cargo de ministro a seu marqueteiro de campanha.

Sidônio Palmeira substituirá Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação Social. Mais que uma troca de nomes, a pasta passará por uma mudança de perfil. Sai um político gaúcho, entra um publicitário baiano.

Os marqueteiros sempre tiveram influência nos governos petistas. No primeiro mandato, Lula se aconselhava com Duda Mendonça. No segundo, recorria a João Santana.

Os dois eram acionados para traçar estratégias, embalar políticas públicas e preparar pronunciamentos para a TV. Nenhum deles precisou ser ministro para exercer essas funções.

Lula estava insatisfeito com a gestão de Pimenta. Em dezembro, reclamou publicamente que havia um “erro no governo na questão da comunicação”. Acrescentou que faria “correções necessárias”, o que foi interpretado como um aviso prévio.

Em sua defesa, o ministro demissionário argumentava que nunca teve autonomia para nomear sua equipe. Chefiava uma pasta balcanizada, onde até a primeira-dama ganhou sua cota de nomeações.

Pimenta se formou em jornalismo, mas nunca exerceu a profissão. Especializou-se em criticar a imprensa, como se o papel dos meios de comunicação fosse bajular governos ou divulgar ações oficiais.

Sidônio é do ramo, mas terá que entender que a comunicação pública não se limita à publicidade. E não pode ser subordinada a interesses eleitorais, embora a maioria dos políticos pareça pensar o contrário.

A inexperiência com a máquina estatal também deve cobrar um preço ao novo ministro. Ele terá pouco tempo para aprender a lidar com a burocracia, as pressões do Congresso e as intrigas palacianas.

Lula atribui seu desempenho mediano nas pesquisas a falhas na comunicação. É uma visão autoindulgente, que ignora problemas graves na coordenação política e em outras áreas do governo.

Ao nomear o marqueteiro, o presidente sugere que tudo pode ser resolvido com propaganda. E sinaliza que a Secom passará a operar como Ministério da Reeleição.

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