Essa foi a primeira troca da reforma ministerial que está
sendo maturada no Palácio do Planalto. Lula depende de uma imagem positiva para
não se tornar refém do Congresso
O publicitário Sidônio Palmeira, marqueiro do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a Secretaria de Comunicação Social do
Palácio do Planalto com a tarefa não apenas de gerenciar a imagem presidencial
sem intermediários, mas, também, de alavancar a popularidade governo. Não será
fácil. Mas, agora, o desafio está nas mãos de um profissional bem-sucedido do
marketing político e não de um político profissional, o ex-ministro Paulo
Pimenta, que volta à Câmara para exercer seu mandato de deputado federal.
Publicitário, Sidônio tomou posse, nesta terça-feira, em
solenidade das mais concorridas do Palácio do Planalto, porém sem a presença
expressiva da bancada do PT na Câmara, que perdeu uma posição importante no
governo. A fala de despedida de Pimenta contrastou com o discurso de posse de
Sidônio. Enquanto o ex-ministro fez um longo discurso falando de sua trajetória
de "petista raiz" e aliado incondicional de Lula, Sidônio — como é
chamado no meio publicitário — deixou claro que não tem filiação partidária e
que vai cuidar de todo o governo, cujo "bom trabalho" não estaria
sendo devidamente percebido pela população.
Segundo Sidônio, em dois anos de governo,
Lula reorganizou o país, alcançou bons indicadores econômicos e retirou
brasileiros da miséria, mas a maioria da população não estaria reconhecendo
essas mudanças. À frente da Secom, o marqueteiro terá que formular e
implementar a política de comunicação do governo, gerenciar a publicidade
oficial, melhorar o relacionamento com a imprensa e promover ampla divulgação
de programas e ações do Executivo. Na gestão de Pimenta, essas tarefas estavam
descoordenadas, por causa dos feudos que se formaram na estrutura da Secom.
Com aprovação na faixa de um terço, segundo as pesquisas de
opinião, a avaliação do governo puxa a imagem de Lula para baixo. Para o
presidente, estaria aquém dos resultados de sua gestão, pois não refletiriam os
indicadores de crescimento do PIB e a baixa taxa de desemprego. O governo leva
um banho da oposição nas redes sociais, principalmente da máquina de fake news
da extrema-direita que inferniza o Palácio do Planalto, como a recente onda de
memes e mensagens sobre a suposta cobrança de impostos nas operações com o Pix.
Antes mesmo de assumir o cargo, Sidônio teve que adotar uma
série de iniciativas para desmentir essas informações falsas. Ou seja, o
marqueteiro terá que trocar as turbinas do avião em pleno voo, o que não é uma
tarefa fácil, porque o problema não é somente de comunicação. Imagem política
não é aquilo que o governo avalia de si próprio, mas a percepção que projeta e
mantém na sociedade. É resultado da avaliação dos cidadãos sobre ações,
discursos, valores, comportamentos e estratégias de comunicação, e não da
vontade apenas do governante.
Imagem é tudo. Resulta da forma como Lula, o PT e os
ministros se comunicam e apresentam suas ideias; da aparência, postura e
conduta pública; das decisões administrativas e seus resultados, das
estratégias de comunicação e propaganda, do relacionamento com jornais, rádios,
tevês e redes sociais; e das expectativas, valores e prioridades do público.
Sob comando de Pimenta, o governo capotou em todos os quesitos.
Expectativa de poder
Não à toa, essa foi a primeira troca da reforma ministerial
que está sendo maturada no Palácio do Planalto. Lula depende de uma imagem
positiva para manter o apoio popular, sem o qual seria refém do Congresso.
Sidônio precisará moldar opiniões, influenciar os eleitores e projetar a imagem
do governo para que Lula concorra à reeleição. Projetar a expectativa de poder
para além de 2026 é fundamental para remover candidaturas competitivas, como
seria a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No discurso de saída, Pimenta falou da dificuldade de
coordenar a comunicação de quatro ex-candidatos a presidente — o vice Geraldo
Alckmin (PSB), ministro do Desenvolvimento Econômico, e seus colegas Fernando
Haddad (PT), da (Fazenda), Marina Silva (Rede), do Meio Ambiente, e Simone
Tebet (MDB), do Planejamento — e vários ex-governadores: Rui Costa (PT-BA), da
Casa Civil; Camilo Santana (PT-CE), da Educação; Wellington Dias (PT-PI), do
Desenvolvimento Social; e Renan Filho (MDB-Al), dos Trasportes. Segundo ele,
cada um chegou com sua própria equipe de comunicação.
Entretanto, os maiores problemas da comunicação são dois: a
alta da inflação, que exigirá um corte adicional de R$ 35 bilhões a R$ 40
bilhões para conseguir cumprir a meta fiscal deste ano; e a necessidade de o
governo recuperar a liderança moral da sociedade, o grande desafio.
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