Lula chega à beira dos 80 anos constatando que talvez não
possa concorrer à reeleição, olha para o lado e não vê quem possa substituí-lo
O presidente Lula demonstrou mais uma vez que é maior que o
PT e que tem visão política mais realista do que aqueles que o cercam,
acostumados a viver à sua sombra, resignados a depender dele para ganhar
eleições. Ao chamar a atenção de seus ministros e principais assessores para a
necessidade de montar um esquema que possibilite a vitória em 2026 sem que
necessariamente seja ele o candidato do partido, Lula colocou na mesa problemas
difíceis de resolver a curto prazo, muito por causa dele mesmo.
Líder personalista que passou a vida bloqueando a renovação
partidária por não querer ninguém a fazer-lhe sombra, Lula chega agora à beira
dos 80 anos constatando que talvez não possa concorrer à reeleição, olha para o
lado e não vê quem possa substituí-lo eleitoralmente.
Foi ele a lembrar que, além da idade avançada, os
imprevistos acontecem, como o defeito no avião presidencial que teve de
sobrevoar o aeroporto por cinco horas para poder fazer um pouso de emergência
ou a queda no banheiro que quase lhe tirou a vida, na descrição dramática que
fez na reunião ministerial. Interessante lembrar que, quando outros escreveram
ou especularam sobre essa hipótese, foram acusados de etarismo, bolsonarismo e
outros ismos. Quando Lula fala, é o quê?
Os substitutos “naturais” do partido não
parecem ter vigor eleitoral: ministros Rui Costa, da Casa Civil; Camilo
Santana, da Educação; ou Fernando Haddad, da Fazenda. Este último — o mais
conhecido popularmente por já ter vencido uma eleição para prefeito de São
Paulo e ter substituído Lula na disputa presidencial de 2018 — só terá êxito se
a economia for bem. Apesar de dois anos de sucesso, com crescimento do PIB e
taxa de desemprego nos níveis mais baixos, o futuro não parece promissor devido
ao desequilíbrio das contas públicas, que resulta em inflação em alta e falta
de credibilidade nas ações do governo.
Se Haddad conseguir superar os problemas, seria ele o
“candidato natural”. Os outros dois, ao contrário, não teriam a menor chance.
Teremos de ver quem substituirá Haddad em caso de crise, sabendo que uma “nova
matriz econômica” levou Dilma Rousseff à Presidência, mas também criou as
condições para a tremenda crise que implodiu seu governo. Falando nisso, uma
situação diferente está à frente de Lula, que já não tem força política para
eleger quem quiser.
“A mulher de Lula” foi eleita sem que ninguém soubesse quem
era, nem mesmo Lula. Ele achava que poderia reassumir o cargo depois do
primeiro mandato dela. Hoje, se Lula não for o candidato, não há certeza de que
poderá carregar um candidato sem luz própria à vitória. E nenhum dos possíveis
candidatos tem, a não ser Haddad, se der certo a economia. Ou Camilo Santana,
se em 2025 e 2026 conseguir fazer mais do que fez pela educação nos primeiros
dois anos de seu mandato.
O mesmo problema enfrenta seu adversário mais direto, o
ex-presidente Bolsonaro. Com uma vantagem sobre Lula: Bolsonaro continua um
cabo eleitoral forte, enquanto Lula carrega o peso de ser o incumbente, sobre
quem recaem todas as culpas do governo quando este está desgastado. Na eleição
anterior, era Bolsonaro o incumbente, e Lula beneficiou-se dessa situação para
falar do passado como se tivesse sido real e pudesse ser repetido.
Agora, na tentativa de recuperar a popularidade que já teve,
começa a nova etapa de propaganda oficial relembrando imagens do passado, como
se elas pudessem se repetir no presente. A advertência de Lula a seus ministros
e assessores demonstra que o futuro não está garantido para o PT, e o partido
terá de aprender a negociar apoios para ter competitividade para disputar a
Presidência em 2026. Esses apoios ficarão mais escassos se ficar claro que Lula
não poderá disputar a eleição, por qualquer motivo que seja.
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