Recuo no caso da fiscalização das transações de pix gera
dúvidas se agora a popularidade digital vai nortear a economia
A primeira polêmica econômica do ano é um indicativo de como
pode ser a tônica do governo Lula na segunda metade de seu terceiro mandato:
uma administração extremamente focada nas repercussões de suas ações nas redes
sociais e, consequentemente, com uma alta tendência ao populismo.
A determinação de Lula para que se revogasse o ato normativo
da Receita Federal sobre a fiscalização das transações realizadas por Pix, após
as reações negativas nas redes e a onda de fake news que se formou, é mais um
episódio de como a condução da política econômica parece estar a reboque dos
objetivos políticos.
A regulamentação da Receita, em si, fazia todo o sentido
econômico: apertava o cerco contra sonegadores, estendendo às operações via
pagamentos instantâneos a mesma atenção dada a outras transações bancárias,
imobiliárias, de moeda estrangeira, entre outras.
No entanto, vivemos a era das polêmicas
digitais, e logo o sentido da medida foi distorcido numa série de postagens e
vídeos compartilhados à exaustação por grupos de direita, anti-Estado e
anarco-capitalistas.
O governo até que tentou, com a contribuição da imprensa,
explicar melhor a medida e desmentir os boatos de que iria começar a taxar as
transações via Pix. A estratégia estava funcionando, e com certeza a
repercussão negativa passaria com o tempo, como acontece sempre.
Mas o governo cedeu à pressão e recuou. Preferiu revogar uma
medida necessária a continuar sofrendo o desgaste nas redes sociais – e isso é
bastante preocupante.
Não por acaso, desde terça (14/01), a Presidência da
República tem à frente da sua Secretaria de Comunicação um marqueteiro, Sidônio
Palmeira, que tomou posse prometendo melhorar as estratégias de divulgação das
ações do governo nos ambientes virtuais.
Pelo visto, a influência de Palmeira irá muito além da
conexão do governo federal com o público; suas diretrizes devem moldar as
próprias decisões do governo pelas métricas da popularidade digital.
De certa forma, esse episódio da fiscalização do Pix se
conecta também com o anúncio das medidas de ajuste fiscal feito pela equipe
econômica no início de dezembro, e que desencadeou toda a crise nos mercados
verificada nas últimas semanas. Naquele momento, o governo decidiu apresentar
as desagradáveis medidas de contenção de gastos embrulhadas com a promessa de
ampliação da isenção de imposto de renda para as pessoas que ganham até R$ 5
mil mensais.
Em comum, ambos os episódios revelam que as ações do governo
na economia estão sendo condicionadas pela preocupação de Lula e seu entorno
com as repercussões na popularidade presidencial.
Se no caso do pacote de medidas fiscais pelo ajuste de
gastos a equipe econômica se viu obrigada a dourar a pílula com a promessa de
uma isenção tributária, no evento da fiscalização dos pagamentos por Pix o medo
da reação negativa nas redes fez o Ministério da Fazenda retroceder. Em ambos
os acontecimentos, prevaleceu o interesse político-eleitoral sobre a lógica
econômica.
Ao colocar o monitoramento da sua popularidade nas redes
sociais como norte para as decisões governamentais, o governo caminha
perigosamente rumo ao populismo econômico, ainda mais diante de uma conjuntura
externa e interna desafiadora e uma base política frágil no Congresso.
E essa tentação tende a crescer à medida que 2026 se
aproxima.
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