Trump se reforçará nas instituições que o eternizem no
cargo, mesmo sem saber o que fazer com ele
Que cansaço. Em 2025, Donald Trump,
às vésperas do segundo mandato, lembra o Jair Bolsonaro de 2019, que, por sua vez, era a versão
jeca do Trump de 2017. Mesmas mentiras, mesmas ameaças, mesmas frases para
espantar, mesmas bazófias para otários. Uma coisa é a campanha que engabela os
pascácios, outra é transportá-la para a administração. Talvez seja esta a estratégia: enquanto os factoides são
discutidos com indignação, as medidas realmente importantes de seu projeto
político vão sendo tomadas sem serem percebidas.
Para garantir o ingresso na Casa Branca pela primeira vez, Trump prometeu deportar 11 milhões de imigrantes, construir
um muro gigante entre os EUA e o México (pago pelos mexicanos), barrar a
entrada de muçulmanos, acabar com "essa bobagem" de aquecimento global, investir no tratamento de saúde mental
para evitar assassinatos em massa, reprimir os movimentos negros ("causa
de problemas") e declarar aos 35 anos o limite de "vida útil"
para as mulheres —depois disso, deviam "sair de cena".
Desta vez, ameaça (de novo) "deportar em massa
imigrantes ilegais" (o que ele sabe que não é possível), terminar o muro
(do qual só construiu uma fração), taxar os produtos estrangeiros, leia-se
chineses, sem excluir os brasileiros, e "perfurar, perfurar,
perfurar", inclusive o Ártico, embora este já passe por um estado crítico
de degelo. Tudo de novo, daí o cansaço. As novidades são o perdão para os 1.500
criminosos que invadiram o Capitólio no 6/1/2021 e a anexação do Canadá aos EUA e a tomada pela força da Groenlândia e do Canal do Panamá. Grande
parte disso é conversa fiada, jogo de cena.
É possível que seus auxiliares, todos com interesse pessoal
em questões essenciais, cumpram suas ameaças e passem a boiada. Mas certo mesmo
é que, além de seu controle já assegurado da Suprema Corte, Trump irá tentar se
reforçar na costura jurídica de instituições que lhe possibilitem eternizar-se
no poder.
O poder pelo poder sem saber muito bem o que fazer com ele
não é uma fantasia. É um desvio frequente na política. E não é um privilégio da
extrema direita.
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