Sem honrar compromissos com aliados dos EUA, Trump pode
beneficiar seus adversários
Em cenário turbulento, perda de credibilidade americana
tende a atrair novos países para influência da China
A partir do que se sabe hoje, 2025 será marcado por uma
guerra de tarifas, uma complexa negociação para o fim da guerra Rússia-Ucrânia,
o fortalecimento das alianças na Europa e na Ásia-Oceania, Israel em posição de
força e aumento de influência da China.
Donald Trump vê os impostos de importação como arma para
impor sua vontade. Tarifas desorganizam a cadeia global de valores e causam
inflação, que induz ao aumento de juros e a outras distorções na economia.
A principal prejudicada por essa política poderá ser,
paradoxalmente, a indústria americana, que depende de componentes fabricados em
países visados por Trump, como China e México. As tarifas deslocarão fábricas
para outras partes da Ásia e para os EUA, gerando custos extras para os
produtos.
Trump não pretende honrar os compromissos
dos EUA com seus aliados, como Taiwan e Ucrânia, que se verá obrigada a
negociar coma Rússia, que ocupa um quinto de seu território. A Europa, por sua
vez, tentará a todo custo evitar que a retirada do apoio americano seja um
incentivo para invasões russas no futuro.
Os presidentes da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e da França,
Emmanuel Macron, discutiram com Trump as condições para um eventual acordo com
a Rússia, durante a reinauguração da Catedral de Notre Dame, em dezembro. Ela
inclui a mobilização de soldados europeus – Zelenski gostaria de incluir
americanos, mas é improvável que Trump aceite – para monitorar a resultante
linha de cessar-fogo.
Isso representa um guarda-chuva da Otan à Ucrânia contra as
agressões russas. Embora não seja o mesmo que a proteção completa da aliança, é
um passo nessa direção. O desengajamento de Trump reforçará os arranjos de
defesa da Europa com Japão, Coreia do Sul, Austrália e Índia, ameaçados por
China e, nos dois primeiros casos, Coreia do Norte, aliadas da Rússia.
A perda de credibilidade americana atrairá novos países para
o guarda-chuva da China. Taiwan estará mais vulnerável a uma invasão chinesa.
A volta de Trump dará maior liberdade para Israel atuar na
Faixa de Gaza, sem as pressões dos EUA, que lhe fornecem US$ 3,8 bilhões em
ajuda militar anual, com poder de veto sobre o uso de suas armas. Trump
brindará Israel com apoio incondicional.
Israel já está em situação de força, com a degradação dos
arsenais do Hamas e do Hezbollah e consequentemente o enfraquecimento do Irã.
Isso incentivará o Irã a avançar em seu programa nuclear, com ajuda da Rússia.
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