A partir desta segunda-feira veremos o quanto morde esse cão
que late grosso. Será o dia da posse do novo presidente eleito dos Estados
Unidos, Donald Trump, este seguidor do estrategista político da extrema direita
(all-right) Steve Bannon, que mandou “atacar sempre”.
Atacar sempre é o que Trump não deixa de fazer, com o
objetivo declarado de pôr em prática o lema do aviador Charles Lindbergh,
evocado em 1941: “America first”, a América em primeiro lugar.
É postura que implica escolha permanente do inimigo a
combater. E o principal é a China, e não mais a extinta União Soviética ou a
nova Rússia comandada por Vladimir Putin, hoje tido mais como aliado do que
como antagonista.
As ameaças de anexar o Canadá e a
Groenlândia, mais a de intervir no Canal do Panamá, por enquanto não parecem
mais que latidos estridentes destinados a desviar a atenção de outros alvos
prioritários.
Trump alardeia a iminência de uma política fortemente
protecionista, que procure cortar as asas da China e dos novos campeões
globais.
Será uma política que apresenta lá suas limitações. A China
tira, sim, mercado do produtor e emprego do trabalhador dos Estados Unidos
quando mantém uma política agressiva de exportações e emplaca um superávit
comercial de quase 1 trilhão de dólares em 12 meses, como em
2024. Mas é esse megasuperávit que também constrói sólida demanda por títulos
do Tesouro dos Estados Unidos, a ponto de compor a maior parte das reservas
externas chinesas, hoje de US$ 3,2 trilhões. Sem essas compras massivas de
treasures pela China, a sustentação da dívida e da política fiscal dos Estados
Unidos corre riscos.
Além disso, todas as grandes empresas dos Estados Unidos
estão na China e exportam de lá. O poderoso Tycoon da Tesla, de Elon Musk, vem
batendo recordes de produção e de exportação de carros elétricos a partir da
China. Tirar oxigênio das exportações chinesas acabará por asfixiar também
cadeias produtivas em capitais dos Estados Unidos. É mais uma limitação.
Uma política protecionista para valer não prejudicará apenas
a China e demais tigres asiáticos. Tenderá a sangrar, também, a produção da
União Europeia e dos parceiros comerciais dos Estados Unidos, Canadá e México.
Bastará o efeito desse torniquete para lesar a produção e o comércio ao redor
do mundo.
Daí os riscos dos efeitos perniciosos da política de Trump
também sobre o Brasil. Está para ser avaliado seu impacto sobre as exportações
de matérias-primas, especialmente de grãos, petróleo e minérios, que perfazem a
maior parte das vendas externas do Brasil.
E deverão aumentar as pressões para que o governo brasileiro
ajude a conter a China na expansão da sua Nova Rota da Seda, que conta com a
adesão de mais de 145 países.
Enfim, uma coisa é cão que late e outra, cão que morde – e
quanto morde.
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