domingo, 19 de janeiro de 2025

TRUMP: UM CÃO QUE SEMPRE ATACA

Celso Ming, O Estado de S. Paulo

A partir desta segunda-feira veremos o quanto morde esse cão que late grosso. Será o dia da posse do novo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, este seguidor do estrategista político da extrema direita (all-right) Steve Bannon, que mandou “atacar sempre”.

Atacar sempre é o que Trump não deixa de fazer, com o objetivo declarado de pôr em prática o lema do aviador Charles Lindbergh, evocado em 1941: “America first”, a América em primeiro lugar.

É postura que implica escolha permanente do inimigo a combater. E o principal é a China, e não mais a extinta União Soviética ou a nova Rússia comandada por Vladimir Putin, hoje tido mais como aliado do que como antagonista.

As ameaças de anexar o Canadá e a Groenlândia, mais a de intervir no Canal do Panamá, por enquanto não parecem mais que latidos estridentes destinados a desviar a atenção de outros alvos prioritários.

Trump alardeia a iminência de uma política fortemente protecionista, que procure cortar as asas da China e dos novos campeões globais.

Será uma política que apresenta lá suas limitações. A China tira, sim, mercado do produtor e emprego do trabalhador dos Estados Unidos quando mantém uma política agressiva de exportações e emplaca um superávit

comercial de quase 1 trilhão de dólares em 12 meses, como em 2024. Mas é esse megasuperávit que também constrói sólida demanda por títulos do Tesouro dos Estados Unidos, a ponto de compor a maior parte das reservas externas chinesas, hoje de US$ 3,2 trilhões. Sem essas compras massivas de treasures pela China, a sustentação da dívida e da política fiscal dos Estados Unidos corre riscos.

Além disso, todas as grandes empresas dos Estados Unidos estão na China e exportam de lá. O poderoso Tycoon da Tesla, de Elon Musk, vem batendo recordes de produção e de exportação de carros elétricos a partir da China. Tirar oxigênio das exportações chinesas acabará por asfixiar também cadeias produtivas em capitais dos Estados Unidos. É mais uma limitação.

Uma política protecionista para valer não prejudicará apenas a China e demais tigres asiáticos. Tenderá a sangrar, também, a produção da União Europeia e dos parceiros comerciais dos Estados Unidos, Canadá e México. Bastará o efeito desse torniquete para lesar a produção e o comércio ao redor do mundo.

Daí os riscos dos efeitos perniciosos da política de Trump também sobre o Brasil. Está para ser avaliado seu impacto sobre as exportações de matérias-primas, especialmente de grãos, petróleo e minérios, que perfazem a maior parte das vendas externas do Brasil.

E deverão aumentar as pressões para que o governo brasileiro ajude a conter a China na expansão da sua Nova Rota da Seda, que conta com a adesão de mais de 145 países.

Enfim, uma coisa é cão que late e outra, cão que morde – e quanto morde.

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