Lista do CNPU mostra avanço inegável para uma nação marcada pela desigualdade. Governo e alto escalão, porém, precisam estar mais próximos da população brasileira
O governo federal detalhou ontem o resultado da primeira edição do Concurso Nacional Público Unificado (CNPU). De acordo com as informações divulgadas pela ministra da Gestão e da Inovação, Esther Dweck, o certame cumpriu uma importante missão, que vai além de formar os quadros da administração pública federal. A pasta informou que um terço dos candidatos aprovados no CNPU são de negros, indígenas e pessoas com deficiência. Trata-se de um avanço inegável para uma nação marcada pela desigualdade.
“O concurso realmente democratizou o acesso e está aumentando a inclusão no serviço público. Os percentuais das pessoas que entraram nos três grupos é superior ao que tinha de vagas de cotas, demonstrando que a gente conseguiu o que a gente queria”, explicou a ministra. O ingresso de uma parcela representativa da sociedade brasileira no funcionalismo público tem uma consequência direta para o cidadão. Com a participação desse perfil de servidores, aumentam as chances de políticas públicas voltadas para combater problemas crônicos brasileiros, como a desigualdade e o preconceito.
O governo federal sinalizou que pretende anunciar, em breve, uma segunda edição do CNPU. Espera-se, portanto, uma continuidade à iniciativa de tornar o poder público mais semelhante ao povo brasileiro, e não mais uma instância à qual só têm acesso aqueles com poder aquisitivo suficiente para frequentar boas escolas e cursos preparatórios. Não se trata de escolha trivial. Afinal, cresce no mundo o sentimento contrário a políticas afirmativas, de modo a perpetuar históricas diferenças sociais.
Esse não é o único desafio do governo Lula. Na segunda metade da sua terceira passagem pelo Planalto, o presidente e, principalmente, seu alto escalão, precisam estar mais próximos da população brasileira. Uma das aflições mais agudas é a queda do poder de compra, acentuada pela inflação renitente e os juros crescentes.
Há mais. Temos uma nação ideologicamente muito mais dividida. Se antes, o presidente Lula conseguia construir uma governabilidade com desenvoltura, hoje tal realidade parece mais difícil. As diferenças ideológicas se impõem de maneira categórica. E, à direita, há movimentos claros para dar palco a novos atores. De nomes conhecidos na política, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o de Minas Gerais, Romeu Zema, e o do Paraná, Ratinho Júnior, a estreantes na política — a exemplo do sertanejo Gusttavo Lima.
Reaproximar-se da base eleitoral e apostar na renovação política a partir do surgimento de novos quadros progressistas podem ser caminhos para o sucesso da segunda etapa da gestão Lula 3. O retorno dos trabalhos no Congresso surge como um momento-chave para dar início a essa empreitada.
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