O liberalismo político é um patrimônio da civilização. Não
pertence a uma classe social nem a um país determinado. Ele resulta das lutas
da sociedade civil para se afirmar diante do Estado, materializando ou
encarnando os anseios da Cidadania e do indivíduo por liberdade de ação. O
habeas corpus tem dois mil anos, data da Roma Antiga, e um teórico do
liberalismo como Locke desenvolveu suas propostas um século antes da Revolução
Industrial, do advento portanto da burguesia moderna. O liberalismo demonstra
no que a sociedade é sempre maior que o Estado.
As conquistas do liberalismo são conquistas populares, como
o sufrágio universal, a liberdade de associação e a liberdade de imprensa ou
opinião. A I Internacional tinha perfeita noção disso. Talvez seja o caso de
retomarmos algumas de suas lições.
O dado mais significativo da cena política
hoje é o desalinhamento cada vez mais evidente entre a Democracia liberal e o
capitalismo. Os novos setores da burguesia, aqueles ligados à automação, à
robótica e às plataformas digitais começam a indicar claramente que a
Democracia liberal já não atende ou corresponde mais aos seus objetivos. O
dramático para a consciência democrática é que esses são os setores de ponta da
economia hoje. A ascensão da extrema-direita em várias partes do mundo
materializa isso. As alianças entre os Estados Unidos de Donald Trump e a
Rússia de Vladimir Putin revelam isso. A China, ainda não sabemos muito bem
para onde vai, mas a tradição democrática nunca foi seu forte,
historicamente.
Uma razão a mais para que o Campo Democrático se recomponha
e fique atento ao que se passa ao seu redor. Sintomaticamente, tanto o
populismo dito de direita quanto o dito de esquerda possuem em comum o mesmo
desprezo pela Democracia liberal. Isso é extremamente preocupante. O Campo
Democrático precisa, urgentemente, se apoderar do liberalismo. Tenho afirmado
que alguns são mais democratas no plano político e outros mais democratas no
plano social e econômico. Contudo, há um chão democrático comum. E é esse chão
que cimentará a aliança dos democratas contra o totalitarismo que renasce por
toda parte.
Teremos uma excelente oportunidade de desenvolver isso nas
próximas eleições presidenciais. O passo inicial é a construção de um projeto
de nação tomando por base a Democracia em todas as suas dimensões. E aqui
recordo o saudoso Sérgio Arouca, que compreendia o valor daquilo que denominava
por radicalidade democrática. Isto é, uma Democracia ao mesmo tempo
política, econômica, cultural, educacional e social.
*Ivan Alves Filho, historiador.
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