A decisão é jurídica, mas o sentimento que fica só pode ser
cantado por Dona Ivone Lara: “Não me comove o pranto/ De quem é ruim, e
assim…”.
A decisão unânime da Primeira Turma do STF é técnica, porém
apelo, data vênia do cronista no boteco, para a tese cármica. O réu que agora
chora, pasme!, zombou e sapateou sobre cadáveres, covas e sepulturas.
“Não sou coveiro”, desdenhou das vítimas, na condição de
presidente da República. “Chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até
quando?”, indagou, qual um corvo, a quem cobrava sobre as vacinas.
Funesto, imitou um paciente sem fôlego, para o delírio
perverso do público de uma laive. Das estatísticas das mortes, fez uma
aritmética hedionda, como no soneto de Augustos do Anjos, cujo cenário é o
terror dos cemitérios:
“Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números
A tua conta não acaba mais!”
A decisão é jurídica, a defesa, idem, mas não há como não
lembrar, dona Ivone Lara, das maldades desse homem.
Agora pede anistia, bem antes da pena do crime… O chefe da
tentativa de golpe reivindica a inocência de uma noviça voadora.
Iria implantar no país uma nova ditadura, com o “punhal
verde e amarelo” degolando autoridades; os “kids pretos”, na tocaia,
eliminariam Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.
Ao contrário do indiferente Mersault, personagem do romance
“O Estrangeiro” (Albert Camus) citado por Flávio Dino no julgamento do STF, o
célebre novo réu exibe o seu pranto em busca de piedade — da mesma forma que
corria às igrejas neopentecostais a dramatizar por dividendos eleitorais.
A decisão é jurídica, mas o que a gente repassa é a
biografia de um crápula. Julga-se, no momento, apenas a face golpista, a
capivara criminal, porém, revela uma vida & obra de malfeitos.
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