Banco Central acerta três vezes ao surpreender parte do
mercado e subir os juros para 15%
Se alguém tinha dúvidas sobre a independência do BC neste
governo Lula, será obrigado a repensar
O Banco Central acertou três vezes ao subir os juros para
15% ao ano na reunião de ontem. Primeiro, surpreendeu parte do mercado com a
alta adicional de 0,25 ponto porcentual, o que vai ajudar a ancorar as
expectativas de inflação. Segundo, deixou claro que os juros vão permanecer
elevados por bastante tempo, para evitar interpretações equivocadas de que eles
possam cair em virtude das pressões políticas. E, por fim, ainda deixou a porta
aberta para um novo ciclo de alta, mais à frente, caso os preços não voltem
para o centro da meta.
O BC também tinha motivos para manter a Selic em 14,75%, e
não estaria errado se optasse por esse caminho. Mas a alta adicional vai
aumentar a confiança de que a inflação não sairá do controle no País, e isso
compensa esse torniquete mais apertado na política monetária. Por um lado, o
impacto no mercado de juros será residual, já que a taxa já estava bastante
alta; por outro, o efeito sobre as expectativas será muito maior, porque não
era isso que estava precificado na curva de juros. Ganha-se muito a um custo
pequeno.
A decisão também é coerente com o
comunicado da última reunião, de maio, que falou em “cautela adicional” na
condução dos juros, e nas falas recentes do presidente do BC, Gabriel Galípolo,
e de vários de seus diretores. O BC também segue o manual de política monetária
ao encerrar o ciclo após um aumento na menor dosagem do remédio, de 0,25 ponto.
Uma pesquisa realizada pelo banco BTG Pactual mostrou o
mercado financeiro dividido como poucas vezes se viu: 51% das 76 instituições
que participaram da sondagem apostavam na manutenção da Selic, enquanto 49%
acreditavam em mais um aumento de 0,25. Ainda assim, a maioria apostava que o
mais correto era o BC votar por uma nota alta.
Muita gente pode se perguntar por que subir ainda mais os
juros se as expectativas de inflação para este ano estão em queda (foram de
5,5% para 5,25% nas últimas quatro semanas) e, além disso, o dólar também caiu
ao menor patamar desde outubro. A resposta é que o BC não só pode como deve
aproveitar o bom momento para conquistar mais confiança e quebrar o que os
economistas chamam de “inércia” da inflação, quando os preços elevados no
presente contaminam as estimativas sobre o futuro.
Se alguém tinha dúvidas sobre a independência do Banco
Central neste governo Lula, será obrigado a repensar. Esta diretoria cumprirá
seu papel institucional de segurar os preços e ser o guardião da moeda. •


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