Brasil continua marcando passo no tédio, não importa a
decisão do BC
Apesar da divisão animada dos palpites, meio tanto faz se a
Selic sobe 0,25 ou fica na mesma
Fazia tempo que o Banco Central não
chegava à beira de decidir a Selic com
tanta divisão de palpites a respeito do que fazer a respeito dos juros. Alta de
0,25 ponto percentual? Manutenção da taxa em 14,75% ao ano? O debate causa
sensação entre as dúzias de interessados no assunto e importa para quem negocia
dinheiro grosso no curto prazo. Quanto ao país, quase tanto faz.
No que mais pode importar, o Banco Central deve tentar
evitar que as taxas de mercado caiam um tanto mais, o que anteciparia o começo
do fim do arrocho, que deveria durar até fins de 2025. Deve tentar fazê-lo no
gogó ou na escrita cuneiforme em que explica seus motivos.
Sim, os juros têm caído no atacadão do mercado de dinheiro,
1,5 ponto percentual, nos prazos de 2 a 5 anos, em relação às alturas terríveis
de janeiro.
Importa um pouco mais saber quando juros em
geral vão cair ao menos para níveis do primeiro trimestre de 2024, quando eram
apenas horríveis (taxa real, além da inflação, de 6% ao ano. Agora, estão além
de 9%). Quando podem cair?
Para tanto, dependemos do Aleatório da Silva ou do
Sobrenatural de Almeida que em parte determinam a taxa de câmbio ("o preço
do dólar"). Dependemos da economia americana. Dependemos do que vai ser do
ritmo da economia brasileira, que parece desaquecer apenas um tico, por um
lado, mas está quente no que diz respeito a salários e importações.
Dependemos de saber, bidu, de quando ao menos começaria um
acerto elementar das contas públicas, o que será adiado "sine die",
para o dia de são Nunca, de tarde. Governo, Congresso e boa parte das elites
econômicas não estão ligando de fato para o assunto, como de costume, pois
entrincheirados em interesses de curto prazo, banhados em mesquinharia e
ignorância. Se tanto, reagem em momentos de desastre, nem sempre na direção
certa.
Em suma, não se fazem nem ao menos os acertos
macroeconômicos elementares, os menos complicados. Mesmo diante desse conjunto
de problemas, apenas um aspecto da vida econômica, a discussão dos décimos da
Selic não é lá muito relevante.
No mais, como de costume, se presta pouca atenção ao que
deveria acontecer para crescimento maior da economia e para a redução
sistemática da pobreza. O que tem acontecido de relevante, afora a barbeiragem
macroeconômica misturada a pensamento desejante que foi o aumento enorme de
despesa sem haver perspectiva de receita suficiente e meios de conter o aumento
de gastos?
Houve a reforma tributária, muito boa mesmo depois de muito
estragada pelo Congresso e pelas elites econômicas que cavaram seus favores.
Leva tempo até fazer efeito, assim como boas reformas microeconômicas menores
(no crédito, na vida das empresas). Uma reforma do setor elétrico não virá.
Será limitada, se não for ainda mais avacalhada pelo
Congresso, e deu prioridade a política social (que não se faz por meio de
regulação setorial, aliás). O setor de serviços tem crescido rápido e é,
parece, mais eficiente desde a epidemia, uma novidade que não entendemos
direito por falta de dados e estudos. O que há de importante aí?
Algumas dúzias discutem a Foz do Amazonas, mas não há plano
real de transição energética ou não sabemos o que colocar no lugar do
petróleo. Lula 3
e boa parte da esquerda continuam a acreditar que vão dar conta da pobreza com
mais uma Bolsa qualquer coisa (necessárias e muito insuficientes).
Discutir décimos de Selic é marcar passo na lama do tédio.


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