Filho de Bolsonaro amarga ‘exílio’ nos EUA que inclui
passeio na Disney, participação em rodeio e hospedagem luxuosa. É assim que ele
pretende denunciar uma suposta ditadura no Brasil
Pateta é aquele personagem abobalhado da Disney, e é também
todo aquele que acredita que Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, foi
aos EUA para, dali, “resgatar liberdades perdidas” no Brasil. Há poucos dias,
este jornal mostrou o dolce far niente do deputado federal licenciado
em sua rotina de “exilado político” – que incluiu um passeio com a família num
parque da Disney, onde certamente estavam o Pateta e Donald, o famoso pato.
Donald – não o pato, mas o presidente dos EUA, que de pato
não tem nada – vem até agora ignorando olimpicamente os esforços de Eduardo
Bolsonaro para parecer um exilado político. Deveríamos fazer o mesmo, mas é
irresistível constatar quão rapidamente a farsa bolsonarista de perseguição
política se converteu numa fantasia típica da Disneylândia.
As maquinações internacionais do deputado licenciado se
resumem a manifestações de cunho político por meio de postagens nas redes
sociais, gravações de vídeos, entrevistas concedidas a sites e canais
bolsonaristas e, ora vejam, um roteiro festivo com cara de férias familiares
prolongadas: desde março, momento em que se afastou oficialmente da Câmara dos
Deputados, seu roteiro incluiu, além da diversão na Disney, uma participação
num campeonato de rodeio da Professional Bull Riders, realizado em Arlington, no
Texas, onde Eduardo mora, além de vídeos exibindo uma casa de alto padrão onde
ele e a família se hospedaram, em Orlando, na Flórida, ou apresentando a rotina
doméstica no Texas. É, em resumo, um doce exílio – oficialmente bancado pelo
pai, que disse ter enviado ao desafortunado pimpolho cerca de R$ 2 milhões.
É assim que Eduardo Bolsonaro pretende mobilizar o “amigo”
Donald Trump e os porta-vozes da extrema direita internacional para liderar uma
campanha contra o Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da
República e a Polícia Federal, instituições tidas como algozes de seu pai e
aliados – réus em ação penal por suspeita de envolvimento até o último fio de
cabelo numa tentativa de golpe de Estado.
A permanência de Eduardo em solo norte-americano tem sido
adornada por alguns encontros e gestos políticos, como as visitas que o
parlamentar fez à Casa Branca ao lado do youtuber bolsonarista Paulo Figueiredo
Filho – foram ao menos duas, e uma delas registrada por um ex-assessor de
Trump; viagens obscuras a Washington e encontro com os deputados Brian Mast,
presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, e Cory Mills – o
mesmo que já questionou publicamente o secretário de Estado, Marco Rubio, sobre
possíveis sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do STF. Mas isso nem de
longe revela uma rotina de um perseguido político que conspira contra o Brasil
– o que, inclusive, desabona o inquérito policial aberto a pedido do
procurador-geral da República, Paulo Gonet, e autorizado por Alexandre de
Moraes, sob o argumento de que o parlamentar estaria em “enérgica” campanha
para que o governo dos EUA imponha sanções a autoridades brasileiras.
Ainda que o clã Bolsonaro tente mobilizar mundos e fundos
sempre que seus interesses estão ameaçados – e isso significa dar vazão ao
golpismo que corre nas veias da família –, o fato é que a agenda
norte-americana do deputado licenciado se mostra incapaz de dar sequência à
longa trajetória de desrespeito do bolsonarismo à ordem democrática brasileira.
O Brasil ganha quando Eduardo Bolsonaro dedica suas muitas horas livres nos EUA
à rotina de rodeios, parques temáticos e exibicionismos domésticos. Não é à toa
que Trump não pareça particularmente comovido com o tal “exílio” do deputado –
não por qualquer vocação do presidente dos EUA para o respeito institucional e
diplomático, mas porque Trump certamente tem mais o que fazer.
Enquanto Eduardo estiver confundindo férias com exílio, o
Brasil estará mais protegido dos delírios dos Bolsonaros. E é melhor ainda que
o faça financiado não por verbas públicas, mas pelo dinheiro do papai –
arrecadado entre os apatetados devotos que acreditam que Bolsonaro e sua
família são campeões da democracia.


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