Em vez de lutar por suas ideias, golpistas estão
descobrindo que não vale a pena pagar por Bolsonaro
Na invasão do STF em
Brasília no 8/1, o mecânico Fábio de Oliveira foi filmado aboletando-se na
poltrona do ministro Alexandre
de Moraes. "Cadeira do Xandão, aqui, ó! Aqui, ó, vagabundo! Aqui é o
povo que manda!", zurrou. Ouve-se a voz de seu irmão Erlon, que gravava o
vídeo: "Cadeira do Xandão agora é do meu irmão Fábio! Nós tomou a cadeira
do Xandão, aí, ó!". Diante da pena de 17 anos de prisão a que o voto de
Moraes há dias o condenou, Fábio balbuciou: "Era uma brincadeira. A gente
não sabia que seria transmitido ao vivo".
Também de 17 anos de grade foi a pena
proposta por Moraes para o empresário Pedro Kurunczi, acusado de
"viabilizar materialmente a participação de dezenas de pessoas nos atos de
violência" ao fretar quatro ônibus que levaram 153 fanáticos a Brasília
naquele dia. Há um áudio em que Kurunczi anuncia à filha sua ação para que
"essas eleições sejam anuladas" e afirma que está "esperando a
hora de invadir o Congresso". Confrontado com esses fatos, a versão do réu
é a de que "fez apenas uma tomada de preços para fretar quatro
ônibus".
Todos os julgados até agora pelo STF, inclusive os do
primeiro escalão bolsonarista —ministros, assessores próximos, comandantes
militares—, negaram sua participação nos atos e maquinações golpistas, apesar
da farta documentação produzida até por eles próprios em celulares,
computadores e papel. Tentando salvar a pele, acusam-se uns aos outros de
mentirosos e pedem desculpas a Moraes por tê-lo ofendido. Um deles, olha só, o
próprio Bolsonaro: "Desculpa aí, é o meu jeito, me excedi" —e ainda
chamou seus seguidores de "malucos".
Que corja de invertebrados, não? Quem acredita em ideias e
se dispõe a lutar por elas precisa ser responsável por suas ações. Os que
chamaram os militares para a luta armada em 1969 perderam a parada e pagaram
por isso nos porões da ditadura —muitos com a tortura, outros com a vida. Não
se acoelharam.
Talvez os bolsonaristas estejam descobrindo que não vale a
pena pagar por Bolsonaro.


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