Não exporto nada para os Estados Unidos,
exceto algumas perguntas. Uma delas é esta: por que o país não tem um
embaixador no Brasil? Somos o maior país da América do Sul, a décima economia
do mundo, compramos mais do que vendemos para eles. A resposta razoável não
pode apontar para diferenças ideológicas. Nesse caso, os Estados Unidos não
teriam embaixada na China.
O interessante é que estão construindo uma nova embaixada
em Brasília num
terreno de 50 mil metros quadrados ao custo de R$ 3,5 bilhões. O prédio será
inaugurado em 2030. Será que vão esperar que Lula deixe o poder? Estão cavando
o solo para construir instalações subterrâneas. Será que cavarão infinitamente
e buscarão o embaixador no Japão?
Trump vive um momento especial, e isso pode jogar a nosso
favor. O escândalo Jeffrey Epstein chegou a ele. O milionário que se suicidou
na cadeia e gostava de menininhas deixou um rastro que envolve várias
personalidades. O príncipe Andrew já pagou a sua cota.
Trump lidera o Make America Great Again, e nesse movimento
há muita gente que acha que os políticos são corruptos e pedófilos. O que
acontecerá se concluírem que Trump é como os outros?
Punido com uma tarifa absurda, o Brasil encontrará
solidariedade internacional, pois são muitos os países que se sentem atacados
por Trump. O interessante é que, em termos brasileiros, ele conseguiu o
contrário do que pretendia. Fortaleceu Lula, afundou o bolsonarismo, parece que
não tem noção do efeito de seus atos.
Aliás, isso é algo que pretendo estudar melhor. Existe um
componente autodestrutivo na direita. Nem sempre é necessário combatê-la,
apenas deixar que desenvolva suas tendências suicidas.
Foi assim com a pandemia. Quando Bolsonaro concluiu que era
apenas uma gripezinha e imitou pessoas sufocadas, ele estava roubando o
oxigênio de seu futuro político.
Agora, Trump anuncia uma tarifa exorbitante, pede por
Bolsonaro, que agradece a medida americana, dando a entender que a apoia e
conta com ela em sua defesa. Mais uma vez, ele entra num processo de
autodestruição que dispensa adversários. Está inelegível, será condenado por
tentativa de golpe e consegue, no meio do caminho, personificar uma campanha
antinacional.
As pessoas que combatem Bolsonaro podem ter seu mérito, mas
é inegável que as escolhas dele definem as derrotas. Pessoas mais preparadas
que Trump já produziram efeitos opostos ao que intencionavam.
Não sabemos se ele é capaz de elaborar isso. Mas a verdade é
que influenciou as eleições de 2026 apenas com uma cartinha, parcialmente
copiada de outras cartas, contendo alguns erros essenciais como ignorar o
déficit brasileiro em relação aos Estados Unidos.
Quem visse Lula dando uma corridinha para fazer um discurso
em Santiago, constataria que ele rejuvenesceu dez anos e está pronto para um
novo mandato até 2030. Esse é o horizonte que se abre a partir de 1º de agosto.
Para mim, nada de novo, pois já me acostumei com o PT no governo, desde o
princípio do século.
Vou tocando o barco, sem saber se chegarei até lá, quando
Lula deixar o poder, e os americanos inaugurarem sua nova embaixada em 2030.
Apesar de tudo, será interessante.
Pelo menos, Trump já não estará mais por perto, e a política
americana pode recuperar o mínimo de bom senso, melhor dizendo, começará a
fazer sentido.
Artigo publicado no jornal O Globo em 28 / 07 /2025


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