Fica claro que está em andamento um novo desenho da
geopolítica de hegemonia americana
Todo o cenário do processo político indica que o golpe
continua. O atrevido envolvimento direto de Trump e da diplomacia americana na
soberania brasileira indica que a direita quinta-coluna bolsonarista não está a
fim de abrir mão do retorno ao poder para ficar.
Fica claro que está em andamento um novo desenho da
geopolítica de hegemonia americana. A de uma América debilitada pelo declínio
do capitalismo americano numa circunstância de transformação no capitalismo
internacional.
O capital não tem pátria e menos ainda com o notável
fortalecimento da economia chinesa e, de vários modos, a unidade e diversidade
do capitalismo europeu.
Transformações econômicas e políticas impensáveis na época
de Marx e mais recentemente na Guerra Fria fragilizam os EUA e propõem
perigosos dilemas para um país como o Brasil.
Não teria passado pela cabeça de ninguém que um poderoso
Partido Comunista, como o chinês, se transformasse no patrono de capitalismo
que desafiasse a maior potência econômica e militar do mundo.
No entanto, o lugar do capitalismo na
construção do socialismo está muito claro na obra de Marx e de Engels. O
socialismo não é o antagônico do capitalismo. Como radical oposição de
confronto ele é insuficiente.
Ele só é viável como realização do capitalismo e superação
de suas contradições e irracionalidades. As que indicam a carência histórica de
um sistema político que corresponda a essa carência do capital.
Aparentemente, a China montou um sistema de gestão
socialista das irracionalidades sociais do capitalismo. A China não se mete nas
particularidades políticas e históricas dos outros. Durante a ditadura militar
neonazista de Pinochet, os chineses mantiveram relações diplomáticas com o
governo chileno.
Eles gostam de observar os efeitos corrosivos das
contradições econômicas e suas decorrências políticas. Eles não padecem da
impaciência pelos ganhos ilimitados do capital.
O que fascinou Marx no capitalismo foi que nele se gestava
um modo de produção que ampliava significativamente a produção de bens, a
modernização da economia que tornaria possível a modernização da política e a
modernização social. A superação das diferenças sociais geradas pelo
desenvolvimento desigual do capital.
Até porque sua obra ficou inconclusa, Marx não avaliou na
devida abrangência a diversidade das contradições próprias do capitalismo. Não
avaliou seus herdeiros reducionistas e materialistas da interpretação marxista
vulgar e até mesmo antidialética. O obscurecimento da reprodução ampliada do
capital como reprodução ampliada das contradições sociais. E as decorrentes
técnicas sociais de bloqueio da produção das inovações sociais e políticas.
O “boom” das ciências sociais e das técnicas científicas de
desvendamento das condições da práxis de transformação social e política e da
práxis repetitiva. Esta já agora desdobrada na descoberta de Henri Lefebvre, o
sociólogo francês que incluiu na tridimensionalidade da práxis a práxis
mimética. A falsa práxis que mimetiza até mesmo a práxis revolucionária para
bloquear a possibilidade da revolução social. O que dá direção à práxis
repetitiva, a necessária à reprodução do capital e da sociedade capitalista
tais como se dão a ver e como as veem e vivenciam os que das anomalias da
reprodução se beneficiam e as personificam.
Portanto, a contenção do campo do possível e da nova
sociedade que o capitalismo cria e possibilita. Nisso, sua potencial salvação
está cada vez mais reduzida.
A alienação social tornou-se o grande inimigo da condição
humana. O acobertamento ideológico do substrato econômico de reprodução dos
diferentes níveis e formas de miséria que aparecem como miséria social. Os
mecanismos sociais de exclusão sob a forma de inclusão social perversa. Os que
brutalizam a condição humana como forma de impedir que todos os seres humanos
desenvolvam uma consciência crítica de sua situação adversa. Que se traduza
numa práxis poiética, criativa e transformadora, libertadora.
O capitalismo se transformou apenas em um modo de produção e
reprodução da desumanização do homem. O chamado neoliberalismo econômico de
Milton Friedman e outros é a proposta ideológica, não científica, de um
minimalismo econômico excludente. É uma doença política que reduz a condição
humana à mera possibilidade de ascensão social a limites mínimos de realização
pessoal. Essa é a grande pobreza própria do neocapitalismo da exclusão social.
A pobreza de esperança.
Nossa versão desse declínio é o bolsonarismo, a ideologia de
esterilização da consciência social por um falso evangelismo da prosperidade,
consumista. O de um novo deus, subornável, produzido pelo afã de poder e
dinheiro.


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