Filho considera o pai como refém, não reconhece Tarcísio e
nem mesmo a eleição de 2026 sem o sobrenome de Jair nas urnas
Eduardo Bolsonaro desenvolve o seu pós-Bolsonaro – pós-Jair,
para não haver dúvida. Pós-pai. A superação político-eleitoral do pai. A
constituição desse movimento está explícita. Eduardo propõe uma dissidência
bolsonarista, que se organiza em função do monopólio (desafiado?) do acesso à
Casa Branca e da imposição do que se tornaria a pauta única da direita
brasileira: a anistia, tão difícil de alcançar quanto eficaz em interditar a
ascensão de liderança que não da família.
Não tem negócio. Jair Bolsonaro inelegível,
incontornavelmente inelegível, todo mundo se organizando em função dessa
inelegibilidade – e o bolsonarismo eduardista sustentando a agenda, a da
anistia “ampla, geral e irrestrita”, que engessa a direita e lhe garante poder
e centralidade sobre o espólio de Jair. Tem método.
“Em 2026 será Bolsonaro” – escreveu Paulo
Figueiredo, a inteligência influente que formula e pauta Eduardo. Em 2026 será
Bolsonaro. Não necessariamente Jair – interpreta o cronista.
O bolsonarismo eduardista considera Jair Bolsonaro um
“refém”, donde impossibilitado de avaliar o cenário. Um frágil; manipulado,
chantageado mesmo, para chancelar o “pacto republicano” em função de Tarcísio,
encarnação da “direita permitida”. O ex-presidente seria um incapaz – é o que
se comunica. Daí a proposta eduardista de superação a Jair em defesa de Jair –
em proteção a Jair. O filho que, pelo pai, não obedecerá (mais) ao pai. Está
dito. Todo mundo quer encostar Jair – um ex-presidente passivo, a reboque, seja
do bolsonarismo eduardista, seja do bolsonarismo de oportunidades de Ciro
Nogueira.
Jair Bolsonaro seria refém sobretudo do bolsonarismo de
oportunidades – assim denuncia o bolsonarismo eduardista. Refém de Valdemar e
turma. O ex-presidente – este é o pressuposto – estaria sequestrado, homem
doente, inepto para decidir. Inepto para liderar. Inepto para orientar.
Qualquer pesquisa nas redes bolsonaristas ligadas a Eduardo empilhará
qualificações dessa natureza para o velho Jair, o verdadeiro coagido, em cuja
goela querem – os aliados traidores – enfiar o acordão.
A opção Tarcísio por futuro de um Jair livre representaria
jogada para “exterminar a direita” – direita aqui entendida sob o modo
totalitário bolsonarista. Eduardo pretende ser candidato a presidente com ou
sem o apoio do pai; e reagiu dessa maneira, em entrevista ao Metrópoles, à
possibilidade de também ele não poder concorrer. Apoiaria Tarcísio? “Se eu
estiver inelegível porque fui condenado pela minha atividade nos EUA, eu acho
provável que os EUA não reconheçam a eleição do Brasil.”
Eduardo nos informa diariamente que o bolsonarismo
eduardista, mais do que não reconhecer Tarcísio, não reconhecerá a legitimidade
da eleição, a Magnitsky estacionada sobre o Brasil. Eduardo estará inelegível.
Mais do que projetar candidatura, projeta a inevitabilidade da dissidência,
projetada também a impossibilidade de controlá-la.


Nenhum comentário:
Postar um comentário