Banco do Nordeste e Cade podem ser moedas de troca para
emplacar Messias no STF
Pouco depois de chegar a Brasília, o presidente Lula foi
informado de que a temperatura das articulações contrárias à indicação de Jorge
Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) estava mais elevada do que a de
Belém. Envolvido nos últimos dias com a Cúpula do Clima (COP-30), na capital do
Pará, Lula não escondeu a irritação: decidiu dobrar a aposta.
Enquanto não anuncia que seu escolhido é Messias, no
entanto, o chefe do Executivo fica refém do toma lá dá cá. Além disso, o
presidente do Senado, Davi Alcolumbre – fiador de Rodrigo Pacheco –, ganha
crédito na conta com o Palácio do Planalto.
Diante da desconfiança em relação ao presidente da Câmara,
Hugo Motta – sobretudo depois que ele indicou o deputado Guilherme Derrite,
secretário da Segurança do governo Tarcísio de Freitas, como relator do projeto
Antifacção –, Lula precisa cada vez mais de Alcolumbre.
Agora, por exemplo, o Centrão pede o
comando do Banco do Nordeste, a presidência e a superintendência do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e uma vice-presidência da Caixa.
Amigo de Pacheco, Alcolumbre nega a moeda de troca para conseguir apoio a
Messias, mas avisou a Lula que, se o governo não entrar logo em campo, o
advogado-geral da União terá dificuldades quando for sabatinado pelo Senado.
Em público, o Centrão não vincula o aval ao nome de Messias
à liberação de cargos, mas, nos bastidores, põe tudo na fatura cobrada do
Planalto. Interlocutores de Alcolumbre alegam, ainda, que o atendimento das
demandas políticas é fundamental para Lula manter a “governabilidade” na CPI do
INSS.
No caso do STF, o argumento usado por senadores de partidos
como União Brasil, PP e PSD é de que ninguém quer na Corte “um novo Dino”.
Aprovado em dezembro de 2023 pelo Senado para ocupar a vaga
de Rosa Weber, Flávio Dino obteve o apertado placar de 47 votos, seis a mais do
que o necessário, e iniciou uma cruzada contra o orçamento secreto das emendas
parlamentares.
Uma ala do Senado, liderada pelo PL de Jair Bolsonaro, com o
respaldo de integrantes do Centrão, pretende agora usar a votação do nome de
Messias, quando sua indicação for enviada, para impor uma derrota maiúscula ao
governo. Mas não se trata só disso: a ideia é sinalizar para um “impeachment
simbólico” de ministro do STF, já que a chance de uma proposta assim sair do
papel é remota.
Lula disse a aliados que se arrependeu muito de indicações
feitas para a Corte por recomendação de juristas, principalmente em seu
primeiro mandato, quando o PT e o governo quase foram dizimados pelo escândalo
do mensalão. Agora, só ouve uma pessoa: ele mesmo. •


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