Prisão de Bolsonaro, do presidente do Banco Master,
dos responsáveis pelo assalto aos aposentados do INSS,
discussão da PEC da Bandidagem, prejuízo bilionário nos Correios, indicação,
pelo mesmo presidente, do 11o ministro do Supremo Tribunal Federal
com ligações políticas explícitas, destaque midiático para os líderes de
quadrilha presos, há anos, na Papuda, culminando o noticiário dos jornais com o
comovente assassinato, em Brasília, de uma criança de 7 anos por ciúme
entre casal. Este foi cenário de fundo que abrigou a
trigésima Conferência do Clima, realizada em Belém (Pará), na
última semana.Os resultados reconhecidos pelos próprios
organizadores como " aquém do esperado" podem chegar a afetar o
fechamento das contas públicas do Brasil no exercício de 2025. Não apenas
foram feitos investimentos exagerados para receber o evento, como
frustrou a fantasia de captar, por doação, trilhões de
dólares ou euros dos países ricos - Estados Unidos, União Europeia e
China - para alimentar um Fundo de controle das ameaças climáticas no
mundo, em particular para a proteção da Amazônia.
"Sonhou-se muito alto" e a retórica emotiva foi
recebida com cautela, como se fosse uma imaginária tentativa de gerar o
que poderia ser entendido quase como uma chantagem .
Projetava-se uma arrecadação , durante a Conferência, de 25
bilhões de euros . Não passou de 7 bilhões em promessas.
Contradições explícitas envolviam a dramática
pregação da defesa do clima e a proteção da floresta, ao
mesmo tempo, em que se anunciava a autorização para a exploração de
petróleo e minerais raros na Amazônia, o que assustou as representações
indígenas presentes.
Leviandades à parte, intenções não confessas
afloraram na Conferencia. Festas em luxuosas embarcações navegando
pelo rio Amazonas e shows musicais tinham sua energia alimentada a
combustíveis fósseis. Mesmo assim a Noruega, um pais de boa fé,
defensor do desenvolvimento sustentável, foi induzida a liderar aquela
frente da captação de recursos, como um "papagaio de pirata",
com a promessa de doar R$ 3 bilhões para o projeto do Fundo
Amazônico. A maioria reagiu, entretanto, com ceticismo: alguns prometeram
fazer o mesmo, mas não disseram quanto, nem quando. Metade dos países não
apresentou relatórios sobre providências adotadas para minimizar os efeitos das
ameaças climáticas, recomendas no Acordo de Paris , de 2015.
A proposta da "transição energética" , com a
qual o Governo Brasileiro pretendia marcar uma posição de vanguarda
na História, volatilizou-se. O mapa do caminho para dar um fim no uso dos
combustíveis fósseis ficou fora do documento. O mesmo aconteceu com a
recomendação para a multiplicação, por quatro, da adoção de
combustíveis sustentáveis . Há anos os países produtores de
petróleo ouviam silenciosamente apologias às fontes alternativas
de energia, em que se restaurava até a virtudes - condenadas no passado - da
energia nuclear . Seus defensores não conseguiram emplaca-las. . Uma
experiência aqui outra ali, apregoadas com alardes, as decisões da
COP30, nem chegaram a impactar a demanda e o comércio de óleo cru
no mundo. A extração e exportação do petróleo representa mais
de 50 por cento do PIB de dezenas de países, inclusive o da Rússia que, junto
com os árabes, foi contra a proposta da transição energética.
Sem negar os constrangimentos com os resultados uma das
organizadoras do evento concluiu que "O mundo avançou na discussão
climática" - e completou: "Ainda que modestamente". Reafirmou
que as disposições do documento final estão, entretanto,
"Aquém do esperado". Relativo aos prováveis impactos econôico, a
imaginação fora da "caixinha" parece ter refletido esforços
ideológicos voltados para provocar uma inversão na liderança e
funcionamento da economia mundial.
De fato, aquele cenário interno inoportuno da semana
passada sinalizava para algo , no mínimo, melancólico durante a Conferência.
Com relativa antecedência, já se podia visualizar um resultado
pouco condizente com o imaginariamente projetado . As preliminares já
haviam começado a abalroar o sucesso da Conferência: questões
elementares como infraestrutura e logística, segurança,
chuvas - Em Belém chove todo dia à tarde - e até incêndios
deram vida às inadequações . Mas o que impactou mesmo foi a decisão
dos Estados Unidos e de alguns países importantes, como a China,
não comparecerem a COP30. Significava que as recomendações saídas
de Belém não teriam consequências. Os produtores árabes de petróleo e a própria
Rússia manifestaram-se claramente contrários à substituição do petróleo, como
combustível e matéria prima para a indústria petroquímica, propulsores ,
hoje, dos sistemas produtivos e da reprodução das riquezas no
mundo .
O próprio presidente do Brasil teria pressentido isso.
Em plena realização da Conferência , viajou para a Colômbia e para a África do
Sul, onde fez declarações em favor de Nicolas Maduro, usando ainda sua fala
numa reunião do IBAS - Índia, Brasil e África do Sul - para explicar a
condenação de ex-Presidente brasileiro, o que nada tinha a ver com a agenda da
COP30. Intriga mesmo é imaginar como deve ter sido difícil
configurar, às pressas, cenário tão inconveniente! Se é que assim
foi.
Enfim, em que pese o esforço para trazer a COP30 para o
Brasil tenha sido uma ideia brilhante, a sorte parece que não estava do lado
brasileiro. Aparentemente, a conjuntura não favoreceu. Parecia
conspirar. Tem-se a impressão de que até a as facções
criminosas escolheram esse momento para se mostrar ao mundo. A prisão do
ex-Presidente, mais parecida com uma vingança , no último dia da
Conferência mundial, remeteu para alguns visitantes mais íntimos da história política
do Brasil , a lembrança de que quatro Presidentes do Brasil
já haviam sido presos nos últimos 15 anos: três por corrupção, um por
conspiração e até duas deposições por incompetência governativa .
Consertar Isso na imagem do País vai dar trabalho.
* Jornalista e professor


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