Recuo generalizado do presidente só encontra explicação
no impacto da operação policial do Rio
Se antipetismo se dividir, sobrenome Bolsonaro não é
passaporte para segundo turno
A pesquisa de cenários eleitorais divulgada na
quinta-feira (13) pela Genial/Quaest mostra o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva perdendo terreno e competitividade de forma generalizada. Sinaliza pouco,
contudo, sobre quem poderá enfrentá-lo em 2026. Lula está em situação de empate
técnico no segundo turno, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e
às portas da prisão. Três pontos percentuais os separam, em outubro eram 10.
A vantagem de Lula cai nas simulações que o contrapõem a
Ciro Gomes (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL),
Eduardo Bolsonaro (PL), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil),
Eduardo Leite (PSD) e Ratinho Júnior (PSD). Ou seja, todos.
Se nove adversários se saem melhor contra Lula nesta rodada
do que se saíam há um mês, a notícia está no enfraquecimento do incumbente, uma
paradoxal variável constante; e não no fortalecimento dos rivais. Uma prova
está no fato de que a queda de Lula nas simulações foi maior do que a subida do
oponente em cinco dos nove casos e igual em outros três. O único que teve ganho
líquido em relação a Lula foi Leite, mas o governador gaúcho é uma espécie de
plano D do PSD, que aposta primeiro em Tarcísio, depois em Ratinho, depois em
não ter candidato. Lula batia Leite por 47% a 22%. Agora, por 41% a 28%.
O jogo foi de soma zero em relação a
Ratinho, Zema e Caiado. Eles ganharam 4 pontos percentuais na simulação de
segundo turno, enquanto Lula perdeu 4. Quem está mais competitivo entre estes
três é Ratinho, que perde por 5 pontos percentuais (40% a 35%). Contra Tarcísio
e a família Bolsonaro, Lula perdeu mais do que eles ganharam, o que significa
que aumentou o contingente de eleitores desconfortável com esta disjuntiva, sem
dúvida mais polarizada. Só Bolsonaro empata com o líder, mas sua participação
na eleição é improvável. Tarcísio é o mais competitivo no núcleo, alcançando
36% ante 41% do presidente. Subiu 3 pontos percentuais e Lula caiu 4. O
tabuleiro moveu-se pouco em relação a Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. A
ex-primeira dama perde por 9 pontos, de 44% a 35%, e Eduardo por 10, de 43% a
33%.
O que segue enfraquecendo Michelle e Eduardo é o fato de
ambos serem os presidenciáveis mais rejeitados do Brasil, mais ainda do que o
ex-presidente, rechaçado por 60% dos entrevistados. Eduardo não teria o voto de
67% dos pesquisados (1 ponto percentual a menos do que na rodada anterior).
Este percentual sobe para 80% entre os que se dizem independentes, prováveis
fiéis da balança em 2026. Michele é rejeitada por 61% do eleitorado, índice que
sobe para 70% entre os independentes.
Se a opção de Bolsonaro no cárcere for marcar posição em
2026, de olho em continuar um referencial eleitoral da oposição, repetirá o que
Lula fez em 2018 e escolherá Michelle ou Eduardo, ou ainda o senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ), não incluído nesta rodada. É uma aposta em radicalizar para
preservar um núcleo de fiéis e assim exercer uma espécie de hegemonia na
minoria. Se fizer essa opção, o ex-presidente correrá riscos, como Lula correu
ao apoiar Fernando Haddad há sete anos. Pode perder não apenas a eleição, mas o
mando da oposição.
Naquela ocasião poderia ter havido o crescimento de uma
terceira via na radicalização, o que terminou por não se concretizar, mas essa
possibilidade em 2026 está distante de ser diferente de zero: a pesquisa mostra
que 24% dos eleitores gostariam de um candidato que não fosse “nem Lula, nem
Bolsonaro” e 17% preferiria um total outsider. Caso surja uma oferta que
preencha essa demanda, um candidato com sobrenome Bolsonaro poderá ter
problemas para prevalecer. A Quaest simulou um embate direto de Eduardo com os
governadores. Nas simulações com Tarcísio ou Ratinho, não é possível dizer quem
iria para o segundo turno contra Lula. Tarcísio tem 2 pontos percentuais a mais
que Eduardo, e o filho do ex-presidente tem 4 pontos percentuais a mais que o
governador do Parana. Pode contar a favor dos governadores o fato de ter
rejeição menor não só em relação a Eduardo, como a em relação a Lula. O
presidente tem 53% de rejeição, ao passo que Tarcísio é rechaçado por 40% e
Ratinho por 35%.
O recuo de Lula só encontra explicação no impacto da
operação policial do Rio de 28 de outubro. Essa correlação ficaria ainda mais
nítida caso o governador do fluminense Cláudio Castro (PL) fosse incluído na
pesquisa. Castro não tem densidade política para postular algo maior do que uma
vaga a senador, mas o “sucesso”, por assim dizer, da operação, provavelmente
produziria alguma marola no levantamento.


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