sexta-feira, 14 de novembro de 2025

FATOR OPERAÇÃO NO RIO

César Felício, Valor Econômico

Recuo generalizado do presidente só encontra explicação no impacto da operação policial do Rio

Se antipetismo se dividir, sobrenome Bolsonaro não é passaporte para segundo turno

A pesquisa de cenários eleitorais divulgada na quinta-feira (13) pela Genial/Quaest mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdendo terreno e competitividade de forma generalizada. Sinaliza pouco, contudo, sobre quem poderá enfrentá-lo em 2026. Lula está em situação de empate técnico no segundo turno, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e às portas da prisão. Três pontos percentuais os separam, em outubro eram 10.

A vantagem de Lula cai nas simulações que o contrapõem a Ciro Gomes (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro (PL), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil), Eduardo Leite (PSD) e Ratinho Júnior (PSD). Ou seja, todos.

Se nove adversários se saem melhor contra Lula nesta rodada do que se saíam há um mês, a notícia está no enfraquecimento do incumbente, uma paradoxal variável constante; e não no fortalecimento dos rivais. Uma prova está no fato de que a queda de Lula nas simulações foi maior do que a subida do oponente em cinco dos nove casos e igual em outros três. O único que teve ganho líquido em relação a Lula foi Leite, mas o governador gaúcho é uma espécie de plano D do PSD, que aposta primeiro em Tarcísio, depois em Ratinho, depois em não ter candidato. Lula batia Leite por 47% a 22%. Agora, por 41% a 28%.

O jogo foi de soma zero em relação a Ratinho, Zema e Caiado. Eles ganharam 4 pontos percentuais na simulação de segundo turno, enquanto Lula perdeu 4. Quem está mais competitivo entre estes três é Ratinho, que perde por 5 pontos percentuais (40% a 35%). Contra Tarcísio e a família Bolsonaro, Lula perdeu mais do que eles ganharam, o que significa que aumentou o contingente de eleitores desconfortável com esta disjuntiva, sem dúvida mais polarizada. Só Bolsonaro empata com o líder, mas sua participação na eleição é improvável. Tarcísio é o mais competitivo no núcleo, alcançando 36% ante 41% do presidente. Subiu 3 pontos percentuais e Lula caiu 4. O tabuleiro moveu-se pouco em relação a Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. A ex-primeira dama perde por 9 pontos, de 44% a 35%, e Eduardo por 10, de 43% a 33%.

O que segue enfraquecendo Michelle e Eduardo é o fato de ambos serem os presidenciáveis mais rejeitados do Brasil, mais ainda do que o ex-presidente, rechaçado por 60% dos entrevistados. Eduardo não teria o voto de 67% dos pesquisados (1 ponto percentual a menos do que na rodada anterior). Este percentual sobe para 80% entre os que se dizem independentes, prováveis fiéis da balança em 2026. Michele é rejeitada por 61% do eleitorado, índice que sobe para 70% entre os independentes.

Se a opção de Bolsonaro no cárcere for marcar posição em 2026, de olho em continuar um referencial eleitoral da oposição, repetirá o que Lula fez em 2018 e escolherá Michelle ou Eduardo, ou ainda o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), não incluído nesta rodada. É uma aposta em radicalizar para preservar um núcleo de fiéis e assim exercer uma espécie de hegemonia na minoria. Se fizer essa opção, o ex-presidente correrá riscos, como Lula correu ao apoiar Fernando Haddad há sete anos. Pode perder não apenas a eleição, mas o mando da oposição.

Naquela ocasião poderia ter havido o crescimento de uma terceira via na radicalização, o que terminou por não se concretizar, mas essa possibilidade em 2026 está distante de ser diferente de zero: a pesquisa mostra que 24% dos eleitores gostariam de um candidato que não fosse “nem Lula, nem Bolsonaro” e 17% preferiria um total outsider. Caso surja uma oferta que preencha essa demanda, um candidato com sobrenome Bolsonaro poderá ter problemas para prevalecer. A Quaest simulou um embate direto de Eduardo com os governadores. Nas simulações com Tarcísio ou Ratinho, não é possível dizer quem iria para o segundo turno contra Lula. Tarcísio tem 2 pontos percentuais a mais que Eduardo, e o filho do ex-presidente tem 4 pontos percentuais a mais que o governador do Parana. Pode contar a favor dos governadores o fato de ter rejeição menor não só em relação a Eduardo, como a em relação a Lula. O presidente tem 53% de rejeição, ao passo que Tarcísio é rechaçado por 40% e Ratinho por 35%.

O recuo de Lula só encontra explicação no impacto da operação policial do Rio de 28 de outubro. Essa correlação ficaria ainda mais nítida caso o governador do fluminense Cláudio Castro (PL) fosse incluído na pesquisa. Castro não tem densidade política para postular algo maior do que uma vaga a senador, mas o “sucesso”, por assim dizer, da operação, provavelmente produziria alguma marola no levantamento.

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