Viajo para a COP30 com um lugar-comum na bagagem: a
esperança é a última que morre. Reconheço a importância das visões
catastróficas, mesmo seu alto nível de racionalidade. Mas temos de resistir, e
as COPs são um dos mais poderosos instrumentos de resistência da humanidade.
Elas não têm a capacidade de resolver tudo, e seus textos
para conciliar mais de 190 países são cheios de ambiguidades construtivas,
frases meio vagas necessárias para aprovação coletiva. Muito do que sei sobre
as COPs aprendi com Alfredo Sirkis, que foi a todas realizadas até sua morte,
em 2020, e posso considerá-lo um especialista no tema.
Sirkis usou muitos anos de sua vida para aprovar uma ideia
importante, monetizar a redução das emissões de carbono. Ele sintetizava sua
luta na expressão: menos carbono igual a grana. Essas COPs, mesmo que não
terminem com decisões retumbantes, servem para divulgar o tema, levá-lo por
meio da cobertura da mídia a milhões de pessoas.
A conjuntura é um pouco negativa. Os Estados Unidos saíram
do barco e influenciam outros países, como a Argentina. Os europeus têm menos
dinheiro para o meio ambiente porque foram forçados a ampliar os gastos
militares. A verdade é que, mesmo antes dessa maré baixa, o dinheiro era
difícil. Nos cálculos mais realistas, são necessários US$ 3,5 trilhões anuais
para financiar a adaptação e a transição para uma economia menos destrutiva.
Nesta COP haverá uma proposta de US$ 1,3 trilhão. Nunca se conseguiu chegar nem
perto dos US$ 100 bilhões por ano previstos em Paris em 2015.
Sirkis explica no livro “Descarbonário”. Os governos não têm
tanto dinheiro e ainda por cima são confrontados com necessidades múltiplas. O
grosso do dinheiro está no sistema financeiro: US$ 220 trilhões.
Surgiu um conceito, o Mapa do Caminho, usado em diplomacia.
Ele define as tarefas e responsabilidades na conquista dessa soma. Esse mapa
prevê a conversão das dívidas dos países pobres em investimento ambiental,
impostos sobre produtos de luxo, taxação dos mais ricos — enfim, uma série de
medidas que dependem muito das circunstâncias políticas.
Como simples observador, constato que a taxação dos mais
ricos é uma aspiração internacional. Mas o uso desse dinheiro hipotético não é
consensual. Em Nova York, manifestantes querem taxar os ricos para financiar o
programa de Zohran Mamdani: congelar aluguéis, transporte grátis e creches para
todos.
O Brasil lançou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre. É
uma ideia que já existia e previa não só proteger a Floresta Amazônica, mas
também as do Congo e da Indonésia. É uma grande iniciativa, e todos torcemos
para que vá adiante. Grandes iniciativas recebem muito apoio, mas nem sempre o
dinheiro que merecem.
Mas, se há algo que pode nos confortar nesta luta tão
difícil para evitar que a temperatura se eleve acima dos 2°C até o fim do
século, é o fato de o Brasil estar fazendo todo o possível e ter se tornado
líder mundial. Temos contradições ainda, mas quem não tem? Não podemos
retroceder. Se está difícil assim, imaginem com retrocesso. Além das COPs, os
eventos extremos chamam a atenção para o clima. Na semana passada, Rio Bonito
do Iguaçu, no Paraná, falou alto.
Artigo publicado no jornal O Globo em 11 / 11 / 2025


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