Por Flávia Albuquerque, da Agência Brasil
Durante depoimento na Comissão da Verdade Vladimir Herzog,
da Câmara Municipal de São Paulo, o filho do ex-presidente da República João
Goulart (Jango), João Vicente Goulart, disse que a exumação dos restos mortais
de seu pai pode não ser conclusiva, nem provar que Jango foi envenenado, em vez
de ter morrido em decorrência de problemas no coração, como consta da versão
oficial.
Jango morreu em 6 de dezembro 1976 e a família pediu que a
Comissão Nacional da Verdade, por meio do Instituto João Goulart (criado para
contar a história do ex-presidente e manter viva a memória do político),
investigasse o caso.
"A exumação é um dos meios para chegar à verdade, e não
o fim. Quando apresentamos o pedido de investigação ao Ministério Público,
solicitamos além da exumação a oitiva dos agentes americanos, que estão no
processo de investigação, e a liberação de certos documentos que sabemos que
existem no Departamento de Estado americano sobre o monitoramento do presidente
João Goulart no exílio. Ainda estamos esperando."
João Vicente contou que a família vem investigando a morte
de João Goulart há muito tempo e disse que uma das provas que indicam o
assassinato de seu pai foi o depoimento do agente uruguaio Mario Leira
Barreiro, que confirmou ter assistido a diversos momentos em que agentes
americanos e autoridades brasileiras se reuniam para elaborar planos para
monitorar e eliminar João Goulart.
Além disso, a família tem documentos que mostram a
existência de um agente denominado B, que entrava na casa de João Goulart,
entre outras provas da perseguição.
"Sem dúvidas ele foi eliminado, porque poderia liderar
um processo de reabertura e realinhamento político, e isso levou a uma
preocupação maior, porque ele representava o rei caído. Foi contra ele que foi
dado o golpe de Estado de 1964, e ele representava a restituição da democracia.
Assim como ele, outros líderes nacionalistas como Juscelino Kubitschek e Carlos
Lacerda. Eu acho que é de profunda necessidade o Brasil ir ao fundo nessas
averiguações", acrescentou João Vicente.
De acordo com o presidente da comissão, o vereador Gilberto
Natalini, o depoimento foi muito esclarecedor, no sentido de ligar as mortes de
Juscelino Kubitschek e de Jango, já que o objetivo era o de verificar as
coincidências entre as mortes, que ocorreram em períodos próximos. "Foi
dentro do que esperávamos. Nós estamos fazendo uma ligação entre o que
aconteceu com os dois. Sobre Juscelino, chegamos à conclusão de que ele foi
assassinado em um atentado na Via Dutra. É claro que há uma conjuntura onde a
morte de João Goulart se encaixa, e o depoimento nos deu fortes indícios,
provas escritas, depoimentos familiares de que o pai foi morto".
Natalini concordou com João Vicente no que se refere ao fato
de que Jango foi morto em uma operação para eliminar aqueles que ameaçavam a
abertura lenta e gradual do regime militar, sem perda do controle político por
parte dos militares. Segundo ele, "o Brasil foi eliminando, a partir de
1975, todos aqueles que podiam atrapalhar, porque o Juscelino era o possível
candidato do colégio eleitoral de 1978, com apoio de outras forças, inclusive
de João Goulart. Isso atrapalhava os planos dos militares, que eliminaram essa
gente com métodos absolutamente condenáveis".
Para Natalini, apesar de terem passado 37 anos, e uma
exumação depois de tanto tempo ser algo extremamente complexo, há
possibilidades de encontrar alguma substância venenosa nas ossadas, mas mesmo
que não se encontre nada, não significa que a tese defendida, de que os
remédios de João Goulart teriam sido trocados por veneno, seja invalidada.
"Essa é uma das investigações. Goulart estava cercado no Uruguai e na
Argentina pelas forças de repressão, e foi avisado, assim como Juscelino, que
eles estavam na mira da ditadura, e seriam eliminados".
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