Na tentativa de afrouxar o nó em que se enroscou ao dizer
que, quando ministra da Casa Civil, aprovara um negócio milionário na Petrobrás
com base em relatório incompleto, a presidente Dilma Rousseff complica a cada
dia a narrativa do Palácio do Planalto.
É a tal história dos equívocos em série cometidos para
tentar corrigir o erro de origem. A explicação dada por Dilma na semana passada
se contrapôs à versão oferecida anteriormente pela presidente e pelo
ex-presidente da Petrobrás para a compra da refinaria de Pasadena. Os dois
disseram que o negócio foi feito porque na época pareceu bom.
Depois, a presidente resolveu pedir o afastamento de Nestor
Cerveró da diretoria da BR Distribuidora. Não ficou claro o motivo. Ele foi o
responsável pelo aludido relatório, cujas falhas a presidente disse ter tomado
conhecimento em 2008. Levou seis anos para ser punido antes de ter sido
promovido.
Ainda assim, fica a dúvida: foi demitido por que, se o
negócio era bom segundo Graça Foster, Sérgio Gabrielli e vários integrantes do
Conselho de Administração que aprovaram a compra e já se pronunciaram? Ficou
parecendo que o Palácio do Planalto precisava arrumar um culpado e uma demissão
para dar verossimilhança à sua versão.
Agora, a fim de evitar a criação de uma CPI para investigar
a Petrobrás e desestimular a convocação de Graça, Gabrielli, Cerveró e mais o
ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, acusado e preso por suspeita de
corrupção, o governo tenta criar uma atmosfera de intimidação geral
disseminando versões segundo as quais congressistas teriam muito a perder se
insistirem em mexer nesse vespeiro.
A manobra obedece à dinâmica de sempre: circulam histórias
de que alguém ouviu dos ex-diretores que estão prestes a explodir ao molde de
homens-bomba, dispostos a contar o que sabem e, com isso, envolver e
constranger boa parte da República. Será verdade?
Em relação a Paulo Roberto Costa não há como conferir, pois
ele está em poder da Polícia Federal. Corre na capital que seu poder e trânsito
eram "gigantes" entre parlamentares de partidos governistas. Um tanto
vago, mas o suficiente para amedrontar quem tem a temer.
Quanto a Nestor Cerveró, sua volta ao Brasil (está em férias
na Europa) é aguardada para a semana que vem. Segundo um amigo parlamentar que
conversou com ele, está absolutamente tranquilo, não dá o menor sinal de que
pretenda explodir. Afastado da diretoria da BR, continua funcionário de
carreira da Petrobrás e nessa condição voltará, conversará na empresa para
tomar pé da situação e, se convocado pelo Congresso, irá prestar
esclarecimentos.
Para repetir o que já disseram Sérgio Gabrielli e Graça
Foster: que a compra da refinaria foi baseada em estudos técnicos bem
fundamentados. Ou seja, vai desmentir a presidente da República, já devidamente
desmentida pelo silêncio da atual e pelo pronunciamento do ex-presidente da
Petrobrás.
A tentativa de impedir a criação da CPI pela via da
intimidação não parece ser a estratégia mais inteligente para ninguém. Joga
tanto o Legislativo quanto o Executivo na vala comum da suspeição geral. Parte
do pressuposto de que todos são culpados até prova em contrário.
O governo, porque usa desse instrumento de chantagem para
impedir a abertura de uma investigação no Parlamento. E o Congresso, pela ideia
de que esse tipo de ameaça seja eficaz mesmo quando dirigida a deputados e
senadores da oposição.
Pode dar certo, mas pode dar muito errado. Vai depender da
disposição do Legislativo de aceitar ou não a regra do jogo em que é posto, a
princípio, na condição de devedor com a faca no pescoço e convidado a
compartilhar da lei da Omertá.
O governo tem maioria para impedir a CPI, com suavidade.
Mas, pode acabar em minoria se insistir em atuar com brutalidade.
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