Um ex-gerente aposentado da Petrobras é um novo personagem
das investigações da Operação Lava-Jato envolvendo o pagamento de propina para
campanhas do PT. Em uma declaração gravada no dia 15 de março - durante os
protestos contra a corrupção e o governo Dilma Rousseff -, em Recife, Carlos
Alberto Nogueira Ferreira afirmou que assinou dois cheques nominativos para as
construtoras do cartel no valor total de R$ 14 milhões destinados à campanha ao
governo de Pernambuco, em 2006, do atual senador Humberto Costa (PT-PE).
"Assinei um cheque de R$ 6 milhões nominativo a Schahin
Construtora e outro cheque de R$ 8 milhões nominativo a Odebrecht. Esses R$ 14
milhões de reais em 2006 foram para a campanha do senhor Humberto Costa,
candidato a governador de Pernambuco em 2006 e arrecadador financeiro do PT
aqui", afirma Ferreira.
Ex-gerente da Petroquímica Suape, em Pernambuco -
subsidiária da Petrobras, que fica ao lado da Refinaria Abreu e Lima -,
Ferreira está aposentado e foi subordinado a Paulo Roberto Costa o ex-diretor
de Abastecimento da estatal que virou peça central da Lava-Jato.
No vídeo que circulou na internet à partir do dia 16,
Ferreira acusa ainda o empresário pernambucano Mário Beltrão de ser o PC Farias
do senador petista - referência a Paulo César Farias, pivô do impeachment do
ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.
"Quem recebeu o dinheiro em nome de Humberto Costa foi
o senhor Mário Beltrão. Ele é o amigo de infância de Humberto Costa,
arrecadador financeiro dele. É o PC Farias do senador Humberto Costa",
afirma Ferreira.
As declarações do ex-gerente vão servir no inquérito aberto
por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o
recebimento de propina pelo senador, em sua campanha de 2010. Beltrão também é
alvo desse inquérito.
Em sua delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da
estatal Paulo Roberto Costa já havia apontado o envolvimento do senador com
propina proveniente da unidade.
Segundo ele, a campanha do senador em 2010 recebeu R$ 1
milhão do esquema de propinas e corrupção na Petrobras. O dinheiro foi
solicitado pelo empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista
e presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (Assimpra).
Paulo Roberto Costa afirmou que o dinheiro saiu da cota de
1% do PP - Partido Progressista que tinha o controle político da diretoria
Abastecimento da estatal. Segundo o delator, o PP decidiu que tinha que ajudar
na candidatura de Humberto Costa, razão pela qual teria cedido parte de sua
comissão. Paulo Roberto Costa afirmou ainda que, se não ajudasse, seria
demitido.
Humberto Costa foi eleito em 2010, o primeiro senador pelo
PT de Pernambuco. Antes, havia exercido cargo de secretário das Cidades de
Pernambuco (2007 a 2010) no governo Eduardo Campos - depois de perder a disputa
ao governo em 2006 - e foi ministro da Saúde no primeiro mandato de Lula, de
janeiro de 2003 a julho de 2005.
Reação
O senador Humberto Costa entrou no Tribunal de Justiça de
Pernambuco com um pedido para que o vídeo fosse retirado da internet.
A gravação circulou na internet à partir do dia 16. "
Tão logo tomou conhecimento, por meio de um vídeo, da acusação criminosa feita
contra a honra dele durante um ato de rua, o senador Humberto Costa (PT-PE)
determinou aos seus advogados que buscassem a identificação do autor e o
interpelassem judicialmente", informou a assessoria de imprensa do
senador.
"O senador não conhece e jamais viu o homem que fala no
vídeo", diz a nota. O senador ressaltou ainda que "recebeu pouco mais
de R$ 5 milhões para custeá-la e que, desse total, não houve qualquer doação
por parte das construtoras Odebrecht e Schahin, como consta da sua prestação de
contas, julgada e aprovada pela Justiça Eleitoral".
A Schahin informou, por meio de nota, que "não tem
conhecimento dos fatos mencionados".
A Odebrecht, também por nota, disse que "não comentará
ilações levantadas de forma questionável e sem qualquer fundamento".
Mário Beltrão não foi encontrado nesta quinta-feira (26)
para comentar o assunto. No ano passado, quando foi apontado pelo delator
referente à campanha de 2010, o empresário informou que era "uma
leviandade" a acusação.
"Eu sou um homem que preza a transparência e a
honestidade. O dia em que eu mentir eu morro do coração. Humberto Costa é meu
amigo de infância, mas nunca me pediu colaboração de campanha." Ele
afirmou que "jamais pediu um centavo para Paulo Roberto".
Por meio de sua assessoria de imprensa, o senador Humberto
Costa negou qualquer irregularidade. Clique e leia íntegra da nota.
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