Editorial O Globo
Dilma põe interesses pessoais e do PT acima do país
Em clássico exemplo de ato falho, Dilma deixou escapar que
nas eleições se “solta o diabo”. Transcorria 2013 e, no ano seguinte, na
campanha à reeleição, ela demonstraria na prática o que entendia pelo termo:
aprofundou o uso da contabilidade criativa para mascarar o crescente déficit
fiscal, pedalou bilhões ao obter crédito disfarçado em banco público e usufruiu
da ácida criatividade contra adversários do marqueteiro João Santana, há algum
tempo cumprindo temporada na carceragem de Curitiba.
E, no final, deu tudo certo. Em termos, porque ganhou a
eleição, mas, devido a alguns dos demônios que liberou, enfrenta processo de
impeachment, já aprovado na Câmara e em tramitação para ser julgado no Senado.
A presidente continua colocando o diabo à solta.
E cada vez mais, com a decisão extemporânea de viajar para
Nova York, a fim de participar da solenidade de assinatura do Pacto de Paris,
sobre o clima, na sexta, pretexto para aproveitar o palanque internacional e
fazer o discurso mentiroso do “golpe”.
Assim, Dilma assume a postura de dignitários de “repúblicas
bananeiras”, tendo um comportamento bizarro perante a diplomacia internacional.
Pior: com a própria presidente fazendo ataques à ordem instituída do seu país,
contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Ineditismo absoluto — no mau sentido — na História do
Brasil. É evidente que o governo e o PT executam uma estratégia de comunicação
a fim de passar a sua versão errada do impeachment para a imprensa estrangeira.
Daí as entrevistas coletivas em que Dilma responde apenas a perguntas de
jornalistas estrangeiros.
Querem desinformar a imprensa internacional, na
impossibilidade de fazerem o mesmo com o jornalismo profissional brasileiro. A
tese do “golpe”, construída como forma de manter a militância mobilizada, saiu
da rua e invadiu o Planalto, por meio dos discursos feitos pela presidente em
comícios organizados nos salões do Palácio.
E foi adiante até se infiltrar na defesa da presidente,
brandida no Congresso e no STF pelo advogado-geral da União, ministro José
Eduardo Cardozo. Agora, a própria presidente se vale da prerrogativa de ser
representante máxima do país em fóruns diplomáticos para usar a tribuna da ONU,
de maneira oportunista, a fim de tratar de um problema político pessoal e do
seu partido.
A diplomacia brasileira sempre foi respeitada no mundo, pela
seriedade e o profissionalismo. Agora é usada de forma rocambolesca.
Infelizmente, de tudo isso deverão restar arranhões na imagem das instituições
do país perante governos e empresas internacionais.
Ministros do Supremo, como o decano Celso de Mello, já se
pronunciam contra esta manobra de comunicação do Planalto. Ontem, ele foi
objetivo: “Até agora, tudo (o processo de impeachment) funcionou em perfeita
ordem.” Dentro das regras constitucionais.
Mas Dilma e PT parecem acreditar na teoria do nazista Joseph
Goebbels de que uma mentira dita mil vezes vira verdade. Mesmo que eles
prejudiquem o Brasil.


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