Da Época
O engenheiro José Antunes Sobrinho, de 63 anos, prosperou
nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele é um dos donos
da Engevix, empreiteira que ascendeu a partir de 2003, por meio de contratos,
financiamentos e empréstimos obtidos com estatais e bancos públicos. A empresa
valia R$ 141 milhões em 2004. Dez anos depois, faturava R$ 3,3 bilhões. O
modelo de negócios de Antunes era simples e eficiente, adaptado ao capitalismo
de Estado promovido pelos governos petistas. Consistia em corromper quem
detivesse a caneta capaz de liberar dinheiro público à empresa dele. Ou, se
esse estratagema não fosse suficiente, corromper os chefes políticos e amigos
influentes daqueles que detivessem as canetas. Antunes e seus sócios pagavam
propina, portanto, para conseguir o acesso ao dinheiro público barato que, por
sua vez, permitiria à Engevix conseguir, mediante mais propina, os grandes
contratos públicos de serviços e obras, em estatais como Petrobras,
Eletronuclear, Furnas, Infraero e Belo Monte.
Antunes era bom no que fazia, conforme atestam os números da
Engevix. Talvez bom demais. A exemplo de outros empreiteiros que seguiam o
mesmo modelo de negócios, foi preso na Operação Lava Jato. Tornou-se acusado de
corrupção, lavagem de dinheiro e, entre outros crimes, de participar do cartel
de empreiteiras que, associado em especial aos políticos do PT e do PMDB,
destruiu a Petrobras e devastou outras estatais durante os governos Lula e
Dilma. Preso desde setembro em Curitiba, Antunes resolveu entregar aos
procuradores da Lava Jato tudo – ou grande parte – do que sabe. As negociações,
que estão em estágio avançado, passaram a envolver recentemente a equipe do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Muitos dos crimes admitidos por
Antunes envolvem, direta ou indiretamente, políticos com foro privilegiado –
aqueles que, muitas vezes, são os donos de fato de quem move as canetas nas
estatais.
ÉPOCA obteve acesso, na íntegra e com exclusividade, à
última proposta de delação entregue pelos advogados de Antunes aos
procuradores. São 30 anexos, cada um deles com fatos, pessoas e crimes
distintos.
No documento e em conversas com procuradores da República,
Antunes disse ter pago propina a operadores que falavam em nome do
vice-presidente da República, Michel Temer, e do presidente do Senado, Renan
Calheiros, ambos do PMDB. Segundo ele, nos governos petistas, os dois
patrocinaram a nomeação de afilhados políticos em estatais como Petrobras e
Eletronuclear. Antunes também afirmou ter pago milhões em propina ao caixa
clandestino do PT, em razão de vantagens indevidas obtidas pela Engevix na
Caixa, no fundo de pensão do banco, a Funcef, em Belo Monte, na Petrobras e no
Banco do Nordeste. Ainda de acordo com Antunes, o PT, em especial por meio de
José Dirceu e João Vaccari, ambos presos na Lava Jato, também patrocinava
afilhados políticos nesses órgãos públicos. Antunes disse que foi pressionado
por Edinho Silva, então arrecadador de Dilma e hoje ministro no Planalto, a
financiar a campanha da presidente em 2014.
Antunes e boa parte dos principais delatores da Lava Jato
afirmam que esse modelo de negócios só era possível graças à maior das canetas:
a do presidente da República. Sem ela, seja com Lula, seja com Dilma, nenhum
desses afilhados políticos estariam nos postos para os quais foram despachados
por PT e PMDB, os dois principais partidos da coalizão governista. Para manter
boas relações com o Planalto, Antunes diz que pagou para ter a influência do
advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma, conforme revelou ÉPOCA.
Afirma que pagou, também, para a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que
foi, até 2010, a principal assessora de Dilma. A seguir, alguns dos principais
episódios narrados por Antunes. Se sua proposta de delação for aceita, o
depoimento, somado a provas que Antunes promete apresentar, pode ser valioso
para as investigações da Lava Jato.
Leia a reportagem completa na edição de Época que já está
nas bancas.


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