Da ISTOÉ
Nos últimos oito anos, a expressão “Cinturão Vermelho” foi
repetidamente usada pelos principais líderes petistas. Trata-se de uma
referência a um conjunto de oito cidades da Região Metropolitana de São Paulo,
onde o partido nasceu e veio crescendo eleição após eleição e nas quais desde
2008 se mantém no poder. Era a partir do “Cinturão Vermelho”, com cerca de 3,5
milhões de eleitores, que os estrategistas petistas planejavam quebrar a
hegemonia dos tucanos em São Paulo. As últimas pesquisas, porém, mostram que,
depois de desvendada a corrupção sistêmica protagonizada pelo PT em todo o
País, nas próximas eleições o partido tende a ser abatido até mesmo em seu
próprio berço.
É o caso, por exemplo, da simbólica São Bernardo do Campo.
Foi lá que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva surgiu politicamente
liderando as greves do sindicato dos Metalúrgicos no final da década de 1970.
Desde 2009, o município é administrado pelo ex-ministro e amigo pessoal de
Lula, Luiz Marinho. Uma hegemonia que deve acabar. A candidatura do
ex-secretário Tarcisio Secoli não engrenou. Ele ocupa a quarta posição na
corrida eleitoral com 5% dos votos, segundo o Ibope. Está bem atrás do líder,
Alex Manente (PPS) com 28%, e de Orlando Morando (PSDB) com 25%. Um cenário
parecido com o de Mauá, Santo André, Guarulhos, Osasco, Embu das Artes,
Carapicuíba e Franco da Rocha. “Seria inimaginável, há anos, pensar no PT sendo
derrotado nestas cidades predominantemente de classe média B, C e D”, afirma o
consultor político Gaudêncio Torquato. “Se perder este bastião na grande São
Paulo e a capital, o PT não terá cacife para ser uma força antagônica ao PSDB
no Estado”, complementa. É o que deve acontecer. O atual prefeito da capital,
Fernando Haddad, na quarta posição nas pesquisas. Dos 8,8 milhões de eleitores,
70% estão descontentes com sua gestão, considerada péssima por 55%. Segundo
especialistas, isso torna quase impossível sua reeleição.
Em Guarulhos, segunda cidade mais populosa do Estado, o
prefeito Sebastião Almeida conseguiu a façanha de bater o recorde negativo de Fernando
Haddad. De acordo com o Ibope, sua administração é desaprovada por 85% da
população. Um desgaste que se reflete na competitividade do antecessor e
pré-candidato petista, Elói Pieta. Apesar de ocupar a segunda oposição, atrás
de Eli Corrêa Filho (DEM), Pieta possui pouca margem para sair vitorioso e
manter a hegemonia do PT de 16 anos. Um em cada dois eleitores diz não votar
nele de jeito nenhum.
Impopularidade
A insatisfação do eleitor deve prejudicar ainda o prefeito
de Santo André, Carlos Grana. Segundo a única pesquisa sobre a sucessão
municipal registrada no TSE, realizada pela F.L.S, apenas 17,1% aprovam sua
gestão. Para sucedê-lo, o eleitorado tem mostrado preferência por Aidan Ravin
(PSB), que soma 29,7% das intenções de voto. Perto dali, o PT corre o risco de
perder o comando de Mauá. Desde 1996, o partido foi derrotado apenas em uma
eleição municipal, mas levantamentos recentes colocam o prefeito Donisete Braga
em terceiro lugar na disputa.
Poucos cenários se tornaram tão inusitados para o PT como o
de Osasco. O prefeito Jorge Lapas deixou o partido, encerrando um ciclo petista
de onze anos à frente da cidade. Migrou para o PDT. Pesou na decisão, além do
desgaste da sigla pós-petrolão, as disputas internas. O grupo ligado ao
ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, preso no Mensalão, brigava por mais
espaço no governo e na legenda. Uma disputa em que os dois lados perderam.
Pesquisa do Instituto MAS mostra o favoritismo do ex-prefeito Celso Gíglio
(PSDB) com 30,3%. Candidato pelo PT, o deputado federal Valmir Prascidelli
amarga a sétima colocação.
Em Embu das Artes, governada há 15 anos pelo partido, o
prefeito Chico Brito engrossou a debanda petista no Estado. 24 dos 72
administradores municipais paulistas eleitos pela legenda desertaram no último
ano. As saídas, em sua maioria, foram motivadas por tentativas de desassociar a
imagem da impopularidade petista em meio à crise ética e econômica. Chico Brito
usou outra justificativa. Disse, em público, que deixou a sigla para não ter de
escolher qual dos candidatos de sua base aliada apoiaria. Na prática, foi um
duro golpe contra a candidatura do antecessor e ex-correligionário Geraldo
Cruz. Já em Carapicuíba, o partido, que administra a cidade desde 2009, vai
dividido às urnas. De um lado estará o candidato do PT, professor Everaldo. Do
outro, o presidente da Câmara, Abraão Júnior, que trocou a legenda pelo PSDB
neste ano para concorrer à prefeitura. Com tantos problemas acumulados nas
eleições das oito cidades, o ocaso petista no chamado cinturão vermelho se
torna cada vez mais próximo.
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