Editorial EL PAÍS
O separatismo consumou sua farsa como sempre fez: ignorando
as regras e esmagando as minorias em seu caminho. É lamentável que os
representantes tradicionais do nacionalismo catalão, responsáveis pelos
melhores anos da Catalunha, tenham se jogado nos braços de uma força
antissistema e antieuropeia como a CUP. Essa estranha coalizão, repleta de
populismo, preferiu, em vez de reconhecer o fracasso de seu projeto e suas
tensões internas, lançar-se em um conflito com o Estado.
As medidas previstas no artigo 155 não representam uma
agressão nem ao autogoverno nem aos direitos e liberdades dos catalães. Ao
contrário, são a resposta legítima e necessária do Estado de direito ao desafio
levantado por líderes políticos irresponsáveis e temerários que decidiram se
levantar contra a Constituição e o Estatuto de Autonomia.
Não há maior vilania, e foi o que vimos nos últimos anos,
dia após dia, do que usar fraudulentamente as instituições para degradá-las e
anulá-las. Por isso, além das atuações políticas que o Governo já colocou em
marcha, é imprescindível exigir que a justiça atue com todo rigor contra as
pessoas que protagonizaram, com conhecimento de causa e plena consciência, esta
lamentável declaração de independência.
Estamos em um momento de extraordinária gravidade e não pode
haver dúvidas, hesitação ou equidistância. Os atos passados, erros ou omissões
que possam contribuir para explicar os antecedentes desta difícil situação, que
certamente serão muitos e variados, agora ficam no segundo plano. Porque a
decisão de declarar a independência por parte do Govern presidido por
Puigdemont e os grupos parlamentares de Junts pel Si e a CUP, significa uma tal
agressão contra a democracia que com tanto esforço foi possível construir neste
país, que o único que resta aos democratas é, depois de mostrar sua tristeza
pela destruição tão gratuita da convivência, atuar com máxima diligência e
eficiência para restaurar a ordem constitucional imediatamente.
O Estado, porque atua em nome dos cidadãos e da democracia,
pode e deve triunfar nesta tarefa, e deve fazer isso de forma clara e com plena
confiança em si mesmo. No caminho que começa agora, tão delicado quanto difícil
de completar, não devem existir dúvidas sobre a vigência da Constituição e do
futuro da convivência. O Governo conta, para isso, com o apoio de todos os
cidadãos que querem continuar vivendo em uma democracia que mereça tal nome,
além do apoio da comunidade internacional e de seus sócios europeus, que
demonstraram repetidamente sua solidariedade e preocupação frente à disparatada
tentativa de forçar uma separação unilateral da Espanha. A democracia
espanhola, com o apoio de todos, irá prevalecer. E vai conseguir devolver as
instituições do autogoverno aos catalães.
Com a dissolução do Parlamento e a antecipação das eleições
para 21 de dezembro Rajoy faz o que Puigdemont deveria ter feito, mas não se
atreveu. Mostra assim que a utilização do artigo 155 não restringe os direitos
dos parlamentares e cidadãos que os elegem e ganha o apoio dos democratas
dentro da Espanha e em toda a Europa. E abre o caminho para uma resolução
rápida, legal e legítima da crise, de acordo com o princípio democrático do voto,
do qual alguns queriam escapar.
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