Augusto Nunes, VEJA
A caminho do terceiro fiasco numa disputa pela Presidência
da República, Ciro Gomes mantém intocados o vocabulário de bordel e a
argumentação tão rasa que, na imagem definitiva de Nelson Rodrigues, qualquer
formiga pode atravessá-la com água pelas canelas.
A cada campanha de Ciro, o que muda é o partido que lhe
serve de coiteiro. No momento é o PDT, de Carlos Lupi, o bizarro ex-ministro do
Trabalho de Dilma. Também mudam, claro, os alvos da discurseira de esgoto
berrada com sotaque de coronel nordestino.
Quando foi ministro de Lula, por exemplo, Ciro enxergava no
chefe o maior presidente da história. Hoje vê na mesma figura “um merda”, como
revelou num palavrório recente.
Diretores de redação que antes bajulava para mendigar
entrevistas e reportagens – eu fui um deles – agora se tornaram “jornalistas
alugados que precisam garantir o emprego na idade provecta”. Eu seria um deles.
Para essa caricatura degenerada do Menino Maluquinho,
envelhecer é crime. Ele nem desconfia que, nascido num clã de oligarcas, já era
velho ainda nos trabalhos de parto. É compreensível que o cérebro grisalho
tenha ordenado ao caudilho com pouco mais de 20 anos que começasse a carreira
política no PDS.
Permaneceu até 1983 no partido que surgira das cinzas da
Arena, concebido para dar sustentação parlamentar ao regime militar. Um ano
antes da redemocratização, filiou-se ao PMDB para ampliar as chances de virar
deputado estadual.
Foi o começo da romaria partidária que o levaria a
alugar-se, arrendar-se ou vender-se ao PSDB, ao PPS, ao PSB e ao PROS antes de
homiziar-se no PDT. É hora de algum amigo misericordioso dizer-lhe que o papel
de moleque boquirroto, que passou a vida interpretando, já não combina com um
sexagenário.
Desde 6 de novembro, Ciro Gomes desfruta dos privilégios
concedidos aos idosos: filas preferenciais, meio ingresso em cinemas e circos,
viagens rodoviárias gratuitas, estacionamento cativo — tudo isso está ao
alcance do jurássico oportunista que se imagina jovem.
Queira ou não, ele foi incorporado à grande tribo dos
provectos. Se criar juízo, deixará de chamar eleitores de “burros”, afirmar que
o papel da mulher de um político é dormir com o candidato ou qualificar
Fortaleza de “um puteiro a céu aberto”.
Caso mantenha o estilo, o sessentão idiotizado pela certeza
de que o Brasil é uma imensa Sobral ficará alguns anos-luz mais longe do
Planalto. Em contrapartida, estará cada vez mais perto da presidência perpétua
do clube dos veteranos velhacos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário