O deputado Paulo Maluf (PP-SP), 86, se apresentou à
Superintendência da Polícia Federal de São Paulo nesta quarta-feira (20), um
dia após o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinar
o início do cumprimento de pena por lavagem de dinheiro.
O parlamentar deixou sua casa nos Jardins, na zona oeste da
cidade, em um carro com vidros pretos, por volta das 8h. Uma hora depois, ele
chegou à PF acompanhado de três advogados.
Às 11h, Maluf deixou o local para fazer exame de corpo de
delito no Instituto Médico Legal da Vila Leopoldina, também na zona oeste da
cidade. Lá, o parlamentar caminhou com dificuldade e precisou do auxílio de uma
bengala.
Depois, o deputado voltou à PF, onde permanece em custódia,
na carceragem, até a sua transferência, que ainda não tem data e local
definidos.
Como o mandado de prisão foi expedido em Brasília, Maluf
deve seguir para a capital federal, onde, pela decisão, cumprirá prisão na
Penitenciária da Papuda. Também há chance do deputado ser transferido para um
presídio do Estado de São Paulo, como Tremembé, a 142 km da capital paulista.
SAÚDE FRAGILIZADA
Durante a tarde desta quarta, a defesa de Maluf apresentou à
Vara de Execuções Penais do Distrito Federal recurso para que o deputado
permaneça em prisão domiciliar até que o caso seja julgado. Na petição, foram
incluídas opções de endereço em São Paulo e em Brasília.
Segundo o advogado de Maluf Ricardo Tosto, o deputado está
"arrasado" e não esperava a prisão. Para justificar o pedido de
prisão domiciliar, a defesa do parlamentar citou a idade de Maluf, as recentes
sessões de radioterapias que o deputado fez no Hospital Sírio-Libanês para
combater um câncer na próstata, limitação de movimento, problemas cardíacos,
entre outros problemas de saúde.
"Ele [Maluf] vai ser a única pessoa que não tem direito
de recorrer. Vamos entrar com uma medida cautelar", disse Tosto, que
afirmou que a defesa está em situação difícil pois a decisão de Fachin foi
tomada na véspera do recesso do STF.
Segundo Tosto, a defesa vai tentar também despachar um
agravo regimental com a ministra Carmen Lúcia, que está de plantão durante o
recesso do Supremo.
De acordo com o criminalista António Carlos de Almeida
Castro, conhecido como Kakay, Maluf queria se entregar ainda nesta terça (19),
logo após ser informado da decisão de Fachin, mas foi convencido a se
apresentar à PF nesta quarta (19).
"É uma decisão absurdamente teratológica, contra toda
jurisprudência do Supremo. Acho que é fruto da divisão que o Supremo está
vivendo", disse Kakay.
Em maio, Maluf foi condenado pela primeira turma do STF a
sete anos, nove meses e dez dias de prisão em regime fechado por crimes de
lavagem de dinheiro.
Ele também foi condenado à perda do mandato e ao pagamento
de 248 dias-multa no valor de cinco vezes o salário mínimo vigente à época dos
fatos, aumentada em três vezes.
Os ministros decidiram ainda que Maluf deve se afastar da
administração de empresas, seja em cargo de direção, integrante de conselho de
administração ou de gerência, pelo dobro do tempo da pena de prisão, ou seja,
mais de 15 anos.
EMBARGOS INFRINGENTES
O deputado recorreu, mas perdeu. Ele tentou novo recurso
("embargos infringentes"), negado por Fachin, que aproveitou para
determinar o cumprimento imediato da pena.
Para Fachin, Maluf tenta protelar o início do cumprimento da
pena.
"A manifesta inadmissibilidade dos embargos
infringentes ora opostos, na esteira da jurisprudência desta Suprema Corte,
revela seu caráter meramente protelatório, razão por que não impede o imediato
cumprimento da decisão condenatória", escreveu.
O ministro já havia sido sorteado relator do caso enquanto
estava na primeira turma, antes de mudar de colegiado por causa da Lava Jato.
Em nota, a defesa de Maluf nega que os recursos tenham como
objetivo atrasar o processo. "É evidente que os embargos Infringentes não
são protelatórios. É o primeiro recurso e a jurisprudência é absolutamente
favorável a interposição deste recurso. Retirar o direito ao acesso ao segundo
grau é, com todas as vênias, uma agressão ao direito do cidadão", afirma
Kakay no texto.
CONDENAÇÃO
De acordo com a denúncia, Maluf ocultou dinheiro desviado da
construção da avenida Água Espraiada (avenida Roberto Marinho) enquanto era
prefeito de São Paulo (1993 a 1996). Para isso, fez remessas ilegais ao
exterior usando serviços de doleiros e por meio de offshores na ilha de Jersey.
O Ministério Público responsabilizou Maluf por desvios de
mais de US$ 172 milhões, mas parte dos crimes já foi prescrita. Fachin
considerou apenas desvios na ordem de US$ 15 milhões.
Para a defesa, houve "omissão",
"contradição" e "obscuridade" no julgamento. Os advogados
também pedem para juntar novos documentos aos autos.
No entanto, o STF entendeu que Maluf quer "reabrir a
discussão da causa, promover reanálise de fatos e provas e atacar" a
condenação por meio do recurso. Para Fachin, apesar de apontar "omissão,
contradição e obscuridade", Maluf "não logrou êxito em demonstrar
quaisquer desses defeitos".
OUTRO LADO
Em nota, a defesa de Maluf criticou a decisão de Fachin e
afirmou que o deputado decidiu se entregar imediatamente, "tão logo tomou
conhecimento da ordem de prisão", e que hoje se apresentou à PF "sem
ter sido intimado formalmente".
Leia a íntegra do texto assinado pelo advogado Kakay:
A defesa do dr. Paulo Maluf esclarece que tão logo o dr.
Paulo tomou conhecimento da ordem de prisão por parte do Ministro Fachin
decidiu se entregar imediatamente. Quis se dirigir ontem mesmo a noite a PF,
ainda que não tivesse ainda nenhum documento formal. Hoje pela manhã se
entregou a PF, mesmo sem ter sido intimado formalmente. Expliquei a ele que
entraríamos hoje com uma cautelar junto à Presidência do Supremo bem como
procuraria o Juiz da Vara de Execução.
A decisão do Ministro Fachin é contrária a toda a
jurisprudência do Supremo. E impediu o dr. Paulo de exercer um direito que todo
cidadão tem: o do duplo grau de jurisdição! O Supremo entendeu que a prisão
pode ocorrer após o segundo grau, decisão que eu pretendo questionar no inicio
do ano. No caso do dr. Paulo o segundo grau seria com o julgamento dos embargos
infringentes pelo pleno do Supremo. O Ministro Fachin negou a ele o direito,
reconhecido em todos os países civilizados do mundo, de ter acesso ao segundo
grau. Foi julgado por uma unica vez pela Primeira Turma do Supremo. É evidente
que os embargos infringentes não são protelatórios.
É o primeiro recurso e a jurisprudência é absolutamente
favorável a interposição deste recurso. Retirar o direito ao acesso ao segundo
grau é, com todas as vênias, uma agressão ao direito do cidadão. Por respeito a
este direito é que o Supremo sempre aceitou a interposição do recurso de
embargos infringentes. A defesa entende que os embargos deveriam ter sido
distribuído ao Pleno e analisado de maneira técnica. A decisão monocrática
retira do dr. Paulo o direito de ter o segundo grau e retira do plenário do
Supremo o direito de dar a palavra final a este processo. Por acreditar no
Judiciário a defesa continuará a questionar esta decisão que entende ser
teratológica e contraria a jurisprudência da Suprema Corte.
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