José Carlos Marques, ISTOÉ
Você, brasileiro honesto, cumpridor de seus deveres, que
zela pela ética como princípio fundamental, que tenta educar os filhos com o
objetivo de que eles cresçam como homens decentes e honrados, dentro de valores
de retidão moral, que não aceita o império do crime instalado no País, que
torce pela punição exemplar dos malfeitores e o extermínio definitivo da praga
da corrupção, o que tem a dizer sobre essa frase: “O Rio de Janeiro não merece
que governadores eleitos democraticamente estejam presos porque roubaram
dinheiro público”.
Roubar não deve levar à cadeia. Eis a nova lição dada pelo
chefão do PT, o presidenciável Lula. É ou não é a pregação da bandidagem
libertina como forma de governo? Dias atrás, na condição de réu em sete
processos por lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha, ele,
Lula, disse essa dentre outras barbaridades a uma plateia de áulicos seguidores
que o assistiam em outra de suas escalas, em campanha antecipada e ilegal, no
Rio.
Se já fala isso, imagine o que ele pode fazer caso volte a
ocupar o Planalto. Lula nem se preocupa mais em disfarçar. O seu notório
descaso pela ética chegou a tal ponto que ele coloca a “operação Lava Jato”
como a grande vilã da história. A mesma Lava Jato que desbaratou o esquema de
bilhões na Petrobras e colocou atrás das grades os responsáveis pela pilhéria
seria assim uma espécie de afronta aos “homens do bem”. Acredite se quiser.
Para a patota, benevolência irrestrita. Já para quem está do
outro lado o tratamento é distinto. O juiz Sergio Moro, nas palavras do
menestrel de lorotas, não passaria de “um cara do mal”. Dias antes Lula também
o tachou de “surdo”. Achincalhar autoridades e instituições legalmente
constituídas virou hobby para o petista.
Ele desqualifica o Ministério Público, a Polícia Federal, e
até os magistrados do Supremo, que já ouviram impropérios de sua língua afiada.
Aos aliados do Congresso sugeriu na semana passada que, caso as “vossas
excelências” fossem acusadas de ladrões, deveriam responder com um singelo:
“vossa excelência é a puta que pariu”. Lula partiu realmente ao escracho.
A coletânea de seus despautérios só não é maior que o pendor
a falsear a verdade. Mesmo diante de evidências, dados e fatos que o desmentem
de maneira categórica. Lula caçoa da realidade. Usa a negação lunática como
tática para driblar o cerco de provas que se fecham contra ele e aposta no
mantra de que uma mentira repetida várias vezes acaba por se tornar verdade.
No resumo da cartilha petista a versão partidária vale mais
que qualquer informação e ele, como mentor da regra e hábil manipulador de
multidões, percebeu que pode conseguir por esse caminho alguma vantagem numa
corrida eleitoral provavelmente marcada pela hegemonia de “fake news”.
A questão ainda sem resposta é: por que são tão poucas as vozes
da Justiça que se levantam contra as suas despudoradas agressões? Por incrível
que pareça, Lula não recebe sequer punição pelo comportamento, no mínimo,
afrontoso. Ele estaria realmente acima da lei? Qualquer um pode ser preso na
esquina por desacato.
Lula não, apesar de estarem tipificadas no código penal
razões de sobra para a sua prisão até por risco à ordem pública. Há uma
avalanche de insanidade no ar e a Constituição tem que imperar antes que a
anarquia tome conta em meio a discursos populistas dos que se imaginam
salvadores da Pátria.
Não se pode
desmoralizar o estado democrático de direito, pilar da civilização. Do
contrário, o flerte com a ditadura e com os desmandos é imediato – tal qual se
verificou na Venezuela, conduzida a mãos de ferro por Nicolás Maduro. Lá o
simpatizante de Lula tenta instaurar agora uma eleição sem partidos opositores.
É isso que o Brasil deseja para o seu futuro? Nas patranhas palanqueiras Lula
parece vender isso.
Ele simpatiza com o “modus operandi” do líder venezuelano e
não esconde de ninguém. Tem na ponta dos dedos explicações para qualquer ato de
transgressão do colega. O País precisa estar atento. Não existe sociedade que
funcione adequadamente fora dos limites constitucionais. Lula tripudia de
apurações legais. Recorre a toda sorte de embargos e subterfúgios para evitar o
juízo de seus desvios.
Na semana passada foi marcada finalmente a data do
julgamento na 8ª Turma do TRF-4 para um de seus processos. A primeira reação do
bloco petista foi questionar a celeridade. Almejam postergar ao máximo o
confronto com a lei. Espernearam no Congresso reclamando da decisão. Vários
juristas comentaram, em tom de ironia, que nunca viram “reclamação por rapidez”
como ocorreu no caso.
O ministro Gilmar Mendes pontuou que o julgamento de Lula
trará finalmente segurança jurídica ao País. Para quem, como Lula, classificou
a onda de corrupção como uma grande invencionice para minar sua candidatura,
ter de encarar os fatos deve ser mesmo insuportável.
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