O PSDB começou a se preparar para as urnas de 2018 bem ao
estilo dele. De saída concedeu o controle absoluto da sigla a um dos seus
caciques, o governador paulista Geraldo Alckmin que, de quebra, por decisão de
cúpula, deverá ser o escolhido para a corrida presidencial. Esse foi o
movimento mais previsível. O que estava fora do script e saltou aos olhos foi a
guinada de 180 graus que promoveu no seu escopo de princípios e bandeiras
históricas.
A começar pela ideia, sem pé nem cabeça, de impor
resistências à votação da reforma da Previdência. Não deu para acreditar. Seria
mesmo o PSDB que estava propondo isso? Logo ele, uma espécie de pai ideológico
da reforma, o baluarte de resistência pela modernização do Estado, resolveu
rever o comportamento e apostar no retrocesso? O que exatamente estaria por
trás de tamanha incongruência? A resposta não poderia ser outra que não o velho
e bom oportunismo eleitoral. Entra em cena o populismo à moda tucana. Da pior
espécie. Prejudicando inclusive a agenda de desenvolvimento do País.
Uma escolha, no mínimo, inconsequente que o aproxima
perigosamente do seu arquirrival PT. As medidas vitais e inadiáveis da
Previdência já foram penosamente resumidas ao mínimo. Anulou-se quase R$ 500
bilhões em economia por meio de concessões. E vem o PSDB pedir mais R$ 109
bilhões de desfalque no projeto para beneficiar servidores públicos? No jogo de
conveniência e marketing para a plateia não faltam subterfúgios.
A agremiação quer barganhar apoio suprimindo cláusulas
vitais do projeto. Almeja parecer simpática aos olhos daqueles que reclamam da
perda de vantagens e resistem a mudanças de regras. Mudanças essas,
registre-se, que terão de ocorrer pela sobrevivência do sistema. O tucanato vai
assim lançando às favas a crença na responsabilidade fiscal, pela qual tanto
lutou.
Compromete as chances de montagem de um País financeiramente
ajustado. Por que isso agora? Quer mostrar que passou definitivamente à
oposição ao governo Temer. É popular fazer isso. Dá ibope. No rastro do mantra
marqueteiro e inconsequente do “Fora Temer” quer surfar por outros mares.
Fingir que expiou os pecados. O novo prócere partidário, o governador Alckmin,
já avisou que logo após assumir o controle da sigla vai dar a ordem de retirada
da aliança com o governo.
Uma parceria que gerou vantagens a ambos e perdurou desde o
início. Joga para a plateia. Seja nessa desincompatibilização, seja na
resistência às medidas da Previdência ou mesmo no movimento de lançar um
programa pseudoliberal (anunciado há poucos dias), os tucanos estão errando
feio. Definitivamente dão sinais de terem perdido o rumo e o prumo.
Não há como falar em separação do governo sem ter de
explicar o seu passado. Inaceitável recuar no apoio a Previdência que tanto
defendeu. Inviável aplicar um programa de gestão que remonta princípios
obsoletos – como o do “choque de capitalismo” – defendidos há quase 30 anos,
ainda nos idos de Mario Covas. O momento é outro.
O Brasil anseia novas propostas. E o PSDB parece viver de um
passado que pode levá-lo, inapelavelmente, a uma derrota fragorosa na disputa
presidencial. Os economistas partidários criticam cada passo dado. Os chamados
“cabeças-pretas” e “cabeças-brancas” não se entendem. Manda e leva quem tem
mais tempo de casa, independentemente de carisma e sintonia com a demanda dos
eleitores. Para o mercado financeiro, o presidenciável Alckmin não empolga.
Logo que foi anunciado o acórdão para a sua ascensão ao trono do PSDB as bolsas
andaram de lado.
O governador paulista ainda terá de encarar um inquérito
aberto no STJ sobre as citações ao seu nome nas delações da Odebrecht. Ele foi
acusado de receber dinheiro por fora e o tema, inevitavelmente, vai refluir na
campanha. Caso não se saia bem nesse quesito poderá acabar misturado aos demais
candidatos encalacrados da eleição que, de saída, já promete trazer um eleitor
demasiadamente resistente a velhas fórmulas e malfeitos dos nomes de sempre. De
uma maneira ou de outra, o PSDB parece mesmo ter enterrado no passado os dias
de glória. Não empolga mais.
Perdeu sistematicamente as quatro últimas eleições
majoritárias para presidente no mano a mano direto com o PT e só experimentou
hiatos de alento no escrutínio municipal, quando impôs uma derrota histórica
aos petistas, levando a prefeitura da capital paulista no primeiro turno com o
novato João Doria, que se sagrou vitorioso inclusive nos redutos antes
dominados rotineiramente pelos mandatários de Lula. De lá para cá, os reveses
tucanos se acumulam.
A imagem de ética foi amarrotada por seguidos escândalos,
culminando com o enterro político do até então comandante, Aécio Neves, que
após os 51 milhões de votos na campanha de 2014 encontra-se agora às voltas com
uma batalha judicial sem precedentes. Falta alguma coisa? Só mesmo o populismo
para virar corpo e focinho do PT.
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