sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

POPULISMO À MODA TUCANA

Da ISTOÉ
O PSDB começou a se preparar para as urnas de 2018 bem ao estilo dele. De saída concedeu o controle absoluto da sigla a um dos seus caciques, o governador paulista Geraldo Alckmin que, de quebra, por decisão de cúpula, deverá ser o escolhido para a corrida presidencial. Esse foi o movimento mais previsível. O que estava fora do script e saltou aos olhos foi a guinada de 180 graus que promoveu no seu escopo de princípios e bandeiras históricas.
A começar pela ideia, sem pé nem cabeça, de impor resistências à votação da reforma da Previdência. Não deu para acreditar. Seria mesmo o PSDB que estava propondo isso? Logo ele, uma espécie de pai ideológico da reforma, o baluarte de resistência pela modernização do Estado, resolveu rever o comportamento e apostar no retrocesso? O que exatamente estaria por trás de tamanha incongruência? A resposta não poderia ser outra que não o velho e bom oportunismo eleitoral. Entra em cena o populismo à moda tucana. Da pior espécie. Prejudicando inclusive a agenda de desenvolvimento do País.
Uma escolha, no mínimo, inconsequente que o aproxima perigosamente do seu arquirrival PT. As medidas vitais e inadiáveis da Previdência já foram penosamente resumidas ao mínimo. Anulou-se quase R$ 500 bilhões em economia por meio de concessões. E vem o PSDB pedir mais R$ 109 bilhões de desfalque no projeto para beneficiar servidores públicos? No jogo de conveniência e marketing para a plateia não faltam subterfúgios.
A agremiação quer barganhar apoio suprimindo cláusulas vitais do projeto. Almeja parecer simpática aos olhos daqueles que reclamam da perda de vantagens e resistem a mudanças de regras. Mudanças essas, registre-se, que terão de ocorrer pela sobrevivência do sistema. O tucanato vai assim lançando às favas a crença na responsabilidade fiscal, pela qual tanto lutou.
Compromete as chances de montagem de um País financeiramente ajustado. Por que isso agora? Quer mostrar que passou definitivamente à oposição ao governo Temer. É popular fazer isso. Dá ibope. No rastro do mantra marqueteiro e inconsequente do “Fora Temer” quer surfar por outros mares. Fingir que expiou os pecados. O novo prócere partidário, o governador Alckmin, já avisou que logo após assumir o controle da sigla vai dar a ordem de retirada da aliança com o governo.
Uma parceria que gerou vantagens a ambos e perdurou desde o início. Joga para a plateia. Seja nessa desincompatibilização, seja na resistência às medidas da Previdência ou mesmo no movimento de lançar um programa pseudoliberal (anunciado há poucos dias), os tucanos estão errando feio. Definitivamente dão sinais de terem perdido o rumo e o prumo.
Não há como falar em separação do governo sem ter de explicar o seu passado. Inaceitável recuar no apoio a Previdência que tanto defendeu. Inviável aplicar um programa de gestão que remonta princípios obsoletos – como o do “choque de capitalismo” – defendidos há quase 30 anos, ainda nos idos de Mario Covas. O momento é outro.
O Brasil anseia novas propostas. E o PSDB parece viver de um passado que pode levá-lo, inapelavelmente, a uma derrota fragorosa na disputa presidencial. Os economistas partidários criticam cada passo dado. Os chamados “cabeças-pretas” e “cabeças-brancas” não se entendem. Manda e leva quem tem mais tempo de casa, independentemente de carisma e sintonia com a demanda dos eleitores. Para o mercado financeiro, o presidenciável Alckmin não empolga. Logo que foi anunciado o acórdão para a sua ascensão ao trono do PSDB as bolsas andaram de lado.
O governador paulista ainda terá de encarar um inquérito aberto no STJ sobre as citações ao seu nome nas delações da Odebrecht. Ele foi acusado de receber dinheiro por fora e o tema, inevitavelmente, vai refluir na campanha. Caso não se saia bem nesse quesito poderá acabar misturado aos demais candidatos encalacrados da eleição que, de saída, já promete trazer um eleitor demasiadamente resistente a velhas fórmulas e malfeitos dos nomes de sempre. De uma maneira ou de outra, o PSDB parece mesmo ter enterrado no passado os dias de glória. Não empolga mais.
Perdeu sistematicamente as quatro últimas eleições majoritárias para presidente no mano a mano direto com o PT e só experimentou hiatos de alento no escrutínio municipal, quando impôs uma derrota histórica aos petistas, levando a prefeitura da capital paulista no primeiro turno com o novato João Doria, que se sagrou vitorioso inclusive nos redutos antes dominados rotineiramente pelos mandatários de Lula. De lá para cá, os reveses tucanos se acumulam.
A imagem de ética foi amarrotada por seguidos escândalos, culminando com o enterro político do até então comandante, Aécio Neves, que após os 51 milhões de votos na campanha de 2014 encontra-se agora às voltas com uma batalha judicial sem precedentes. Falta alguma coisa? Só mesmo o populismo para virar corpo e focinho do PT.
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