segunda-feira, 28 de maio de 2018

HIPÉRBOLES DE CIRO

Editorial da Folha de S.Paulo
Político inteligente e carismático, Ciro Gomes sempre teve a carreira prejudicada por inconstância programática e incontinência verbal, dois defeitos muito pessoais.
Como demonstração da primeira, bastaria citar que o ex-governador do Ceará se encontra em sua sétima filiação partidária —é pré-candidato à Presidência pelo PDT.
Já passou por legendas de grande peso, como o PDS que sustentava a ditadura, o PMDB da redemocratização e o PSDB que elegeu Fernando Henrique Cardoso. Tem preferido, porém, siglas médias em que figura como protagonista.
Mas Ciro Gomes celebrizou-se de fato pela coleção de gafes, bravatas e impropérios que lhe custaram prestígio e votos. O caso mais lembrado talvez seja o da disputa presidencial de 2002, quando declarou que o papel de sua mulher na campanha era dormir com ele.
O pedetista enfrenta, segundo levantamento feito em abril, mais de 70 processos, movidos em geral por adversários ofendidos.
Em sabatina promovida nesta segunda-feira (21) por Folha, UOL e SBT, o presidenciável se mostrou mais cuidadoso com a retórica. Explicou-se logo, por exemplo, ao se referir de modo grosseiro a uma gestante como “prenha”.
Entretanto manteve seu estilo hiperbólico, de palavras contundentes e cifras em profusão, citadas com convicção e veemência nem sempre condizentes com seu conhecimento dos temas em pauta.
Com até 9% das preferências pesquisadas pelo Datafolha, mira o voto útil dos eleitores à esquerda. Chama o governo Michel Temer (MDB) de “golpista” e a reforma trabalhista de “selvageria”.
Em sua ofensiva, equivocou-se ao dizer que os juros do Banco Central, de 6,5% ao ano (ou 2,2% acima da inflação esperada), são os mais altos do mundo. Repetiu teses e números já desmentidos sobre a despesa com o serviço da dívida pública e o déficit da Previdência.
Ao que parece, pretende enfrentar a ruína orçamentária com maior tributação sobre os ricos —medida que, embora justa, é insuficiente, ainda mais se devidamente acompanhada de menor taxação sobre os mais pobres.
Quanto a montar alianças para governar, o pré-candidato do PDT (partido que tem 20 dos 513 deputados federais) afirma que não se submeterá a barganhas com o Congresso. “Vou ser eu e um conjunto de ideias e valores que defendo.”
Louve-se a disposição de apresentar sem meias palavras as teses e propostas. Não será nada surpreendente, porém, se estas tiverem de ser retocadas mais à frente, em caso de crescimento nas pesquisas.
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