Com o título “As doces, atraentes e estimulantes fake news”,
o artigo ressalta que, no início, a ideia que havia era de que finalmente o
mundo se livraria das amarras da mediação da imprensa, que, segundo ele, é
“contaminada pelos seus mais diversos interesses e pela sua proximidade com o
poder político”.
No final dos anos 1980, como observa o pós-doutor em
Comunicação, acadêmicos e críticos entendiam que a imprensa desenhava toda a
narrativa da vida pública e que a internet trazia ao mundo a possibilidade de
democratização da informação. “As pessoas comemoraram, então, o surgimento do
chamado ‘jornalista cidadão’, aquele que não precisava de intermediários para
difundir uma notícia. Foi uma onda avassaladora a transformação dos internautas
em produtores e não apenas consumidores de conteúdo”, escreve ele, em um
trecho.
No entanto, de acordo com Sérgio Denicoli, houve mudança não
apenas no ato de se reportar algo. “A internet viria a colocar em causa muitas
profissões que tinham a mediação como norte. Foi assim que aconteceu a
revolução do Uber, do Airbnb – que permite às pessoas comuns alugarem suas
próprias casas como se fossem hotéis –, dos classificados, do comércio de
imóveis, entre tantos outros exemplos. Enquanto essas mudanças eram
comemoradas, o mundo não percebeu que, aos poucos, a internet foi sendo
capturada”, acrescenta ele.
Segundo o diretor da AP Exata – Inteligência Artificial,
empresas ultraglobais, como Google, Facebook, Twitter etc, construíram resorts
de comunicação e cooptaram bilhões de usuários, os quais, conforme ressalta
ele, foram transformados “em produtos narcisistas municiados de espelhos
hipnotizadores”. “Ocorreu, portanto, a digitalização da vida, com ideias,
opiniões e momentos privados devidamente classificados e armazenados em data
centers espalhados pelo planeta. As pessoas foram agrupadas em bolhas e viraram
presas”, afirma Sérgio Denicoli.
Assim, conforme aponta o artigo, “um ambiente que chegou
anunciando liberdade se tornou uma prisão sem muros, com requintes apurados de
cooptação ideológica”. “Tudo devidamente disseminado por robôs e alimentado
pelo que denominamos de ‘perfis de interferência’, criados especificamente para
interferir nos mais diversos processos que envolvem a opinião pública”.
Na avaliação do pós-doutor em Comunicação, a sociedade
entrou não somente “na era da mentira”, mas também na das “teorias da
conspiração, que influenciam nossos amigos e familiares”. “Estabeleceu-se um
surto coletivo, onde, se achando mais que especial, o internauta acredita que
sua vida é o centro das atenções e que sua opinião deve prevalecer, sendo ela
apoiada em pós-verdades, se assim for necessário. Uma doce ilusão. Tão doce e
atraente, como uma bem construída fake news”, escreve ele, no artigo.
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