Há um mundo paralelo chamado Petelândia. Nele, o
ex-presidente Lula não é alguém encarcerado por corrupção, mas um preso
político. Na Petelândia, as eleições do ano passado foram ilegítimas pela não
participação de Lula. Nesse universo à parte, porém, a reeleição de Nicolás
Maduro na Venezuela foi legítima, apesar de dois de seus adversários terem sido
presos para não concorrer, o que gerou contestação até da Organização dos
Estados Americanos (OEA). Na Petelândia, o terrorista Cesare Battisti é uma vítima
de governos autoritários, apesar de a Itália ser um país democrático e sua
extradição ter sido defendida até mesmo pelos partidos italianos de esquerda. O
problema para o PT é que há um mundo à margem da realidade e nele a direção do
partido vem tomando iniciativas baseadas nessa percepção ilusória que lhe rende
cada vez mais prejuízos políticos. Suas lideranças vivem no mundo da lua.
A maior distrofia política do partido aconteceu na posse de
Jair Bolsonaro, eleito democraticamente, inclusive com o respaldo do próprio
PT, que disputou o segundo turno contra ele, e deu legalidade ao processo. O PT
se recusou a participar da solenidade de posse do novo governo do Brasil, mas a
presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmman, tomou um avião e foi para Caracas
prestigiar a posse de Maduro. Ao insistir num segundo mandato usurpado, Maduro
mantém a população venezuelana na maior crise humanitária do continente e mesmo
assim o PT foi bater palmas para o ditador Maduro, que não é reconhecido nem
mesmo pelo Grupo de Lima, incluindo Brasil e Argentina.
Partido protegeu terrorista
Para integrantes da ala mais moderada do PT ouvidos por
ISTOÉ, foi uma ação totalmente desnecessária. “Se quisesse se posicionar,
fizesse uma moção de apoio”, disse um deles, pedindo anonimato para não
aprofundar ainda mais as rixas internas. Para esses integrantes, a ida de
Gleisi à Venezuela teria sido uma “atitude isolada” que não foi referendada por
boa parte dos militantes.
Esses moderados classificam também como “atitudes isoladas”
as manifestações de contrariedade à extradição de Cesare Battisti. O terrorista
italiano vivia no Brasil e recebeu refúgio no governo do ex-presidente Lula.
Battisti foi condenado na Itália à prisão perpétua, acusado de participar da
execução de quatro pessoas durante a década de 1970, quando era militante de um
grupo extremista de esquerda. Aqui no Brasil, o italiano estava preso desde
2007 mas recebeu o agrado do ex-presidente Lula e permaneceu livre e intocável
até o ano passado em São Paulo, quando o ex-presidente Michel Temer (MDB)
decidiu revogar a condição de refugiado do italiano. Contudo, o terrorista
italiano fugiu no final do ano passado, sendo encontrado pela polícia boliviana
nesta semana. O governo de Evo Morales, que sempre foi muito próximo do PT, nem
pensou duas vezes e determinou a volta de Battisti à Itália para cumprir a
pena. O PT, mais uma vez, ficou como voz isolada na opinião pública, defendendo
um terrorista assassino.
No mundo real, Lula está preso. E a expectativa é que sofra
novas condenações até o final de abril. O processo do sítio de Atibaia, que
teria sido reformado com dinheiro das empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahim, é
o que está mais perto de ser julgado. Além dele, há também a denúncia sobre o
terreno do instituto Lula, no qual o ex-presidente é acusado de ter recebido R$
12,2 milhões de propina da Odebrecht. Nesses dois casos, Lula pode pegar até 20
anos de cadeia. Ao se manter fora de órbita, o PT vai reforçando os argumentos
antipetistas que resultaram na sua derrota nas eleições do ano passado. Maior
beneficiário disso, o PSL do presidente Jair Bolsonaro agradece.
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