Não tem a menor importância, para o País, o desfecho da
crise envolvendo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo
Bebianno. Sem qualquer predicado que o tornasse especialmente relevante para o
processo de tomada de decisões do governo, sua permanência ou não no Ministério
de Jair Bolsonaro só interessava de fato aos filhos do presidente, publicamente
empenhados em escolher os ministros e governar no lugar do pai. Já o presidente
Bolsonaro, seja porque é despreparado para exercer o cargo para o qual foi
eleito, seja porque não consegue impor limites aos filhos, seja por uma
combinação dessas duas características, revela-se incapaz de colocar ordem na
casa e concentrar energias naquilo que é realmente necessário para o País.
Assim, não tendo o presidente a necessária condição técnica
e administrativa para substituir Bebianno a tempo e a hora, e muito menos
coragem para enquadrar seus meninos, comete o pecado capital de deixar o Brasil
ser governado por um quadrunvirato.
E fez isso às vésperas do início da tramitação de projetos
de extrema relevância para o conjunto dos brasileiros, como a reforma da Previdência
e o plano de segurança pública, perdendo-se o governo em futricas e picuinhas
palacianas, cujo poder de causar confusão e desgaste é multiplicado pela
onipresença da criançada.
Foi pelas redes sociais que a crise envolvendo Bebianno
atingiu seu ápice. Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente,
chamou Bebianno de “mentiroso”, no que foi endossado pelo pai. Nada nesse
episódio lembra remotamente algo parecido com o respeito à institucionalidade
que se exige de quem ocupa o Palácio do Planalto. Tal comportamento pode até
excitar os militantes bolsonaristas nas redes, mas desgasta profundamente a
imagem de um governo cujo presidente prometeu, em seu discurso de posse,
“hierarquia, respeito, ordem e progresso”, mas até agora só protagonizou
confusões e patuscadas.
Felizmente, nem todos no governo compartilham com Bolsonaro
sua profunda falta de reverência pela instituição presidencial, comprovada não
apenas pelo modo desleixado como se apresentou numa reunião ministerial, de
chinelos e camisa falsificada de time de futebol, mas sobretudo por permitir
que seus filhos atuem como se ministros plenipotenciários fossem. Há assessores
que estão genuinamente empenhados em fazer o governo funcionar, tentando dar à
administração uma feição minimamente sólida. No Congresso também há
parlamentares que se comprometeram a fazer avançar as reformas, mesmo com o
desgaste político que o tema suscita.
A rigor, pode-se dizer que a pauta mais importante do
governo está avançando não por méritos do presidente Bolsonaro, mas a despeito
dele. Enquanto o chefe de governo se permite perder precioso tempo com os
devaneios de poder dele e dos filhos, inclusive com fantasiosas conexões
internacionais para a inclusão do Brasil num movimento “antiglobalista”, alguns
ministros buscam tocar o barco, sem ter, contudo, a menor certeza se o
“capitão” da embarcação sabe para onde pretende ir.
Antes tudo isso fosse método, e não apenas o amadorismo
irresponsável tão característico do baixo clero, de onde saíram o presidente
Bolsonaro e seu fanático entorno. Está ficando cada vez mais claro, porém, que
Bolsonaro, em razão de seus limites mais que evidentes, não tem mesmo a menor
ideia do que é ser presidente e do que dele se espera num momento tão grave
como este.
Desnorteado, governando ao sabor da gritaria nas redes
sociais, o presidente deixou de construir uma articulação organizada no
Congresso. Seu partido é um amontoado de novatos que se elegeram pegando carona
em seu nome; os líderes que escolheu para negociar apoio dos parlamentares são
igualmente inexperientes - um deles chegou a convocar uma reunião de líderes
partidários na Câmara à qual ninguém compareceu; por fim, mas não menos
importante, nem mesmo Bolsonaro parece convencido da necessidade de uma
profunda reforma na Previdência, dado que passou a vida inteira como
parlamentar a boicotar mudanças nas aposentadorias.
Seria ingênuo acreditar que Bolsonaro, de uma hora
para outra, passará a se comportar como presidente e assumirá as
responsabilidades de governo. Mais realista é torcer para que ele, pelo menos,
pare de atrapalhar.
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