O presidente Jair Bolsonaro sempre cria uma polêmica ou gera
um grande suspense quando participa de eventos ou concede entrevistas tipo
“quebra-queixo” (aquelas improvisadas, nas quais é cercado por repórteres e
fotógrafos). Dessa vez, foi na saída de um evento da Caixa Econômica Federal
(CEF), na sexta-feira, ao comentar as derrotas do governo na comissão especial
da Câmara que examinou a reforma administrativa de seu governo.
Enigmaticamente, declarou: “Sim, talvez tenha um tsunami na semana que vem. Mas
a gente vence esse obstáculo com toda certeza. Somos humanos, alguns erram, uns
erros são imperdoáveis, outros, não.” É uma charada.
O que será esse tsunami? Pode ser uma rebordosa de alguma
medida já tomada, como o corte de verbas das universidades, que está provocando
grandes manifestações de protesto de estudantes, professores, funcionários e
pais de alunos, ou o espanto causado, entre os defensores dos direitos humanos
e autoridades do setor de segurança pública, pela liberação do porte de armas
para cerca de 20 categorias profissionais, como advogados e caminhoneiros, e
praticantes de tiro ao alvo. Será que vem por aí uma nova greve de
caminhoneiros, um dos segmentos de sua base eleitoral?
Pode ser também alguma coisa ligada ao evento em si, como
anunciar a venda dos ativos da Caixa Econômica Federal (CEF), cujas atividades
ficariam restritas ao financiamento imobiliário, como pretende o secretário das
Privatizações, Salim Mattar. Na quarta-feira, em fala aos jornalistas após a
primeira reunião do Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI),
Mattar afirmou que é mais fácil para o governo vender participações em
empresas, cujo prazo para conclusão do processo varia de 60 a 90 dias, do que a
preparação de uma companhia estatal para venda, que demora de seis meses a um
ano e meio, de forma a cumprir a legislação e as exigências dos órgãos de
controle.
“Desinvestimentos acontecerão mais cedo, mas as
privatizações vão acontecer. É uma questão de ajuste”, disse Mattar. Comparou
os primeiros meses de gestão à preparação de uma orquestra sinfônica. “Nesses
quatro meses de governo, estamos ensaiando para fazer essa orquestra funcionar,
e vai funcionar”. Traduzindo, significa fazer uma lipoaspiração nas empresas
estatais e mesmo na administração direta, vendendo ativos públicos, como no
caso já citado da Caixa Econômica Federal (CEF). O governo planeja, por
exemplo, focar o Banco do Brasil no crédito rural e a Petrobras, na exploração
de Petróleo, desfazendo-se de outras atividades. Além disso, quer vender
milhares de imóveis do patrimônio da União pelo país afora, começando pelos
parques nacionais, santuários da nossa natureza.
Fricção política
A agenda do governo está mesmo repletas de temas polêmicos. “Na reforma da Previdência eu deixei mesmo o clima de Fla-Flu. É tudo ou nada”, declarou o ministro da Economia, Paulo Guedes, sexta-feira, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), durante o 31º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), no centro do Rio, para debater Previdência e macroeconomia. Ao reiterar a urgência das mudanças previdenciárias, o ministro voltou a falar que o governo Temer deu um passo à frente rumo ao equilíbrio fiscal ao estabelecer um teto de gastos, mas não ergueu “paredes” para segurá-lo. Por isso a urgência da reforma da Previdência”.
A agenda do governo está mesmo repletas de temas polêmicos. “Na reforma da Previdência eu deixei mesmo o clima de Fla-Flu. É tudo ou nada”, declarou o ministro da Economia, Paulo Guedes, sexta-feira, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), durante o 31º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), no centro do Rio, para debater Previdência e macroeconomia. Ao reiterar a urgência das mudanças previdenciárias, o ministro voltou a falar que o governo Temer deu um passo à frente rumo ao equilíbrio fiscal ao estabelecer um teto de gastos, mas não ergueu “paredes” para segurá-lo. Por isso a urgência da reforma da Previdência”.
Voltemos à charada de Bolsonaro? Afora essas agendas, os
três temas de muita fricção do momento são a crise na Venezuela, que deu uma
desanuviada com a reabertura da fronteira em Roraima; o estresse com os
militares, por causa do controle da política de comunicação do governo pelo ministro
Santos Cruz, da Secretaria de Governo; e a Operação Lava-Jato, cuja força
tarefa costuma retaliar os políticos sempre que seus objetivos são
contrariados. As derrotas sofridas pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, na
comissão especial da reforma administrativa, foram impostas por políticos que
estão sendo investigados. Com a volta do ex-presidente Michel Temer à prisão, o
julgamento do seu habeas corpus na próxima terça-feira, pelo Superior Tribunal
de Justiça (STJ), exacerbará essas tensões.
Uma coisa é certa: Bolsonaro está firmemente decidido a
promover uma guinada conservadora em relação aos costumes e às políticas
públicas, em todas as áreas. Seus eleitores querem um estado capaz de manter a
ordem, mas desprezam a política, os políticos e os partidos. É uma contradição:
como ter um Estado mais eficiente, ou seja, que cumpra suas finalidades, e
renegar os meios oferecidos pela democracia para que isso ocorra: o sistema
político? Na democracia é impossível; a dificuldade da democracia representativa
é essa, no mundo inteiro.
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