A relação do ministro de Relações Exteriores, Ernesto
Araújo, com o Congresso, na linha de atuação do guru Olavo de Carvalho, está
criando a maior dor de cabeça para o Itamaraty. Quinze novos embaixadores
designados pelo ministro foram parar na geladeira da Comissão de Relações
Exteriores do Senado, apesar da conversa entre o chanceler brasileiro e o
presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que somente liberou a apreciação
das indicações de três embaixadores até agora, todos por interferência de outras
autoridades.
O presidente da Comissão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), é
aliado de primeira hora de Alcolumbre. Hoje, em reunião extraordinária da
Comissão, segundo a pauta que estabeleceu, serão examinados os nomes dos
embaixadores designados para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com
sede em Lisboa, Pedro Fernandes Pretas, um pedido do ministro-chefe do Gabinete
de segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno; para Santa Sé e
Malta, Henrique da Silveira Sardinha Pinto, solicitação do senador Antônio
Anastasia (PSDB-MG); e da Itália, Hélio Vitor Ramos Filho, cujo padrinho é o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A primeira indicação será relatada
pela senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), a segunda pelo próprio Anastasia e a
terceira, pelo senador Jarbas Vasconcelos(PMDB-PE). Todos são de oposição.
Nos bastidores do Itamaraty, a interpretação é de que as
dificuldades estão num contexto mais amplo do que as relações dos diplomatas
indicados para os postos no exterior com o Congresso, porque a maioria deles
exerceu funções técnicas e não têm rusgas políticas com os senadores. Também
não existe nenhuma “pendência” do presidente do Senado com o Itamaraty. Há
cerca de um mês, o chanceler Ernesto Araújo esteve com Alcolumbre para
solicitar a aprovação de suas indicações, sem sucesso até agora. Araújo já se queixou
com o presidente Jair Bolsonaro sobre a demora nas nomeações, mas não houve
nenhuma iniciativa do Palácio do Planalto no sentido de agilizar a apreciação
dos nomes.
A substituição de embaixadores em postos estratégicos é
normal na troca de governos, o que não é normal é essa demora. Também não é
trivial a ruptura promovida por Araújo, que resolveu “caronear” — para usar uma
expressão militar — a elite diplomática do país e promover diplomatas mais
jovens para os postos mais relevantes. O ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira foi
elegante ao deixar o cargo que ocupou durante o governo Temer, evitando trocas
nos postos primordiais, como as embaixadas de Estados Unidos, França e
Portugal, com o objetivo de facilitar a vida de seu sucessor e a dos próprios diplomatas.
A demora nas nomeações, porém, tornou-se um empecilho para a política externa,
porque os embaixadores que serão substituídos já fizeram suas mudanças e
cumprem um expediente meramente formal, aguardando o substituto estoicamente.
Beija-mão
É o caso do embaixador Sérgio Amaral, em Washington, que aguarda seu substituto até hoje. Demitido antes mesmo de Jair Bolsonaro tomar posse, suporta com galhardia o constrangimento de ter que representar o país sabendo que já não tem nenhuma sintonia com o novo chanceler e o atual governo. As embaixadas também ficam em compasso de espera, porque as iniciativas estratégicas dependem da chegada dos novos embaixadores. No jargão diplomático, perdem o “drive”, ou seja, o impulso de trabalho e a energia para novas iniciativas.
É o caso do embaixador Sérgio Amaral, em Washington, que aguarda seu substituto até hoje. Demitido antes mesmo de Jair Bolsonaro tomar posse, suporta com galhardia o constrangimento de ter que representar o país sabendo que já não tem nenhuma sintonia com o novo chanceler e o atual governo. As embaixadas também ficam em compasso de espera, porque as iniciativas estratégicas dependem da chegada dos novos embaixadores. No jargão diplomático, perdem o “drive”, ou seja, o impulso de trabalho e a energia para novas iniciativas.
No caso dos Estados Unidos, Bolsonaro ainda nem escolheu o
substituto. A expectativa era de que o nome do novo embaixador fosse anunciado
para o presidente Jair Bolsonaro no seu encontro com Donald Trump, mas isso não
ocorreu. Os nomes que chegaram a ser cotados foram o do cientista político
Murillo de Aragão, da Consultoria Arko Advice, que era apadrinhado pelo
vice-presidente Hamilton Mourão, e o do ministro de segunda classe Néstor
Forster, preferido do chanceler Ernesto Araújo.
Estão no limbo, aguardando aprovação do Senado, os novos
embaixadores na Organização das Nações Unidas (ONU), Ronaldo Costa Filho; no
Paraguai, Flávio Damião; na Grécia, Roberto Abdalla; na Guiana, Maria Clara
Clarísio; na Hungria, José Luiz Machado Costa; no Marrocos, Júlio Bitelli; na
França, Luiz Fernando Serra; na Romênia, Maria Laura Rocha; na Bulgária, Maria
Edileuza Fontenele Reis; na Jordânia, Riu Pacheco Amaral; em Portugal, Carlos
Alberto Simas Magalhães; nas Bahamas, Cláudio Lins; no Egito, Antônio Patriota;
na UNESCO, Santiago Mourão; e no Catar, Luiz Alberto Figueiredo.
Tradicionalmente, no Senado, há uma espécie de romaria do
beija-mão dos indicados para cargos que dependem de aprovação no Senado, como
as agências reguladoras e tribunais superiores. Os designados visitam os
integrantes das comissões encarregados de apreciar a indicação, os líderes de
bancada e os integrantes da Mesa do Congresso. No caso dos embaixadores, porém,
nunca houve isso, bastavam as visitas formais ao presidente da Comissão de Exteriores
para marcar as sabatinas. Foram raras as vezes em que indicações foram
embarreiradas no Senado, quase sempre em retaliação ao Executivo, por algum
motivo. O código para derrubar uma indicação em plenário era coçar a gravata,
para ninguém ser constrangido por discursos e encaminhamentos de votação.
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