O presidente Donald Trump escalou o conflito comercial coma
China bem na hora que ele mais precisa. Sua Presidência enfrenta uma guerra
aberta coma Câmara dos Deputados, coma disputa eleitoral de 2020 já e
mandamento. A Casa Branca está bloqueando o acesso dos diferentes comitês a
informações do governo. Algumas questões estão sendo discutidas na Justiça.
Neste momento, um inimigo externo é muito útil. E ele cria outra zona de
interesse para o noticiário. Piorou no fim do dia quando o USTR (Departamento
de Comércio dos EUA) fez o primeiro movimento para tarifas sobre mais US$ 300
bilhões.
O conflito comercial atingiu um patamar inédito porque,
desta vez, houve uma reação imediata e forte dos chineses, que anunciaram
retaliação. As bolsas americanas desabaram. Os índices S&P e Dow Jones
caíram 2,4%, e o Nasdaq despencou 3,4%. Aqui, o Ibovespa caiu 2,7% e o dólar
bateu em R$ 4,00 ao longo do dia. Houve aumento de percepção de risco global.
Na avaliação de Gabriel Petrus, diretor-executivo da
International Chamber of Commerce (ICC) no Brasil, o que assustou desta vez foi
a reação chinesa. Desde que a guerra comercial teve início, em fevereiro do ano
passado, os chineses sempre retaliaram com um certo atraso, sem movimentos
abruptos, tentando esgotar os canais de negociação. Desta vez, a resposta foi
rápida:
—Estamos no ponto mais alto de tensão entre China e EUA.
Hoje (ontem) foi o pior momento desde que a guerra comercial se iniciou no
último ano. As negociações não avançaram em dois pontos que são exigência dos
americanos, mas são muito sensíveis para o governo chinês: o controle sobre as
empresas estatais chinesas e as questões envolvendo propriedade intelectual
—explicou.
A decisão do USTR foi a ameaça de resposta de Trump à
resposta chinesa. Independentemente das questões envolvidas nesta disputa entre
as duas maiores economias do mundo, o fato é que a situação política dos
Estados Unidos pode ter sido o principal fator que levou Trump a disparar seus
tuítes bélicos sobre a China. Esta semana a Justiça vai se pronunciar sobre
duas questões. Hoje será sobre se ele pode rejeitar uma intimação solicitando
registros financeiros da empresa que cuida de sua contabilidade pessoal. Na
sexta-feira, esgota-se outro prazo sobre pedidos de dados a respeito das
devoluções de imposto de renda.
Mas há dezenas de outros requerimentos de informação sobre
políticas públicas. Isso sem falar no pedido de acesso ao relatório completo
sobre as investigações da suposta interferência russa no processo eleitoral
americano. O governo de Trump está reagindo da mesma forma diante dos
questionamentos sobre políticas públicas e decisões de agências nas áreas de
energia, meio ambiente, saúde, comércio, proteção ao consumidor. As respostas
dos pedidos do Congresso são bloqueadas, funcionários são impedidos de prestar
depoimentos, documentos são sonegados.
A avaliação dos economistas é que os dois países perdem com
a escalada da guerra comercial. Haverá uma redução do crescimento do PIB dos
dois lados, com força para provocar uma desaceleração global. Por outro lado, a
economia americana está crescendo, com baixo nível de desemprego. O setor mais
diretamente atingido é o agrícola. Trump ontem voltou a prometer elevar os
subsídios. Se elevá-los, isso distorce o mercado de commodities e nos afeta. O
Brasil também é fornecedor destes mesmos produtos, como a soja, por exemplo,
para a China e terceiros mercados.
A avaliação que pode estar sendo feita por Trump é que a
economia tem musculatura para aguentar a turbulência, enquanto ele fica em
evidência para dizer coisas como a que disse em um tuíte de ontem. Que os
outros governantes não defenderam devidamente os Estados Unidos da exploração
comercial chinesa.
A economia chinesa de fato tem distorções provocadas pelo
estatismo e um sistema opaco de subsídios, que fere as regras do comércio
internacional — A China tem um mercado consumidor de 1 bilhão de pessoas. E usa
isso para conseguir transferência de tecnologia de empresas que querem explorar
esse mercado. A medida é condenada por várias entidades internacionais, como a
OMC —diz Petrus.
Tendo ou não razão na área comercial, a maneira brusca como
Trump escalou o conflito desta vez mostra que ele está mais interessado nos
efeitos políticos internos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário