Jair Bolsonaro parece ter pretendido acalmar Sérgio Moro ao
dizer em entrevista que vai nomeá-lo para a primeira vaga que aparecer no
Supremo Tribunal Federal. O presidente pareceu querer dar uma satisfação à
opinião pública de que seu ministro mais popular tem seu aval e, ao mesmo
tempo, dizer ao auxiliar para aguentar o tranco do desgaste político porque, ao
fim e ao cabo, o tão esperado prêmio da Mega Sena virá.
Será que o presidente é tão ingênuo assim politicamente?
Porque ao tornar pública uma promessa que, agora revela, fez em público a Moro
quando do convite para que ele aceitasse ser seu ministro da Justiça, Bolsonaro
acaba por desgastá-lo ainda mais.
A ficha de Moro também demorou a cair. Em entrevista a uma
rádio paranaense, recostado confortavelmente numa cadeira e esboçando um
risinho orgulhoso, o ex-juiz parecia feliz com a promessa pública do presidente
em entrevista na manhã de ontem.
Depois, diante da evidência de que anúncio tão prematuro o
expõe e o deixa ao sabor das intempéries políticas por mais de um ano, Moro
passou a dizer que a futura ida ao Supremo não foi condicionante para que
aceitasse a Justiça.
É óbvio: ao associar os dois movimentos, Bolsonaro deixa
Moro ao sabor das teorias de que agiu politicamente quando juiz da Lava Jato,
transforma uma das pastas mais importantes de seu próprio governo num mero
pedágio para um objetivo maior e dá tempo aos que não toleram Moro de tramar
algo para dinamitar seu caminho ao Supremo nesse longo período de exposição.
Esse último movimento já começou: parlamentares se
movimentam para aprovar nova extensão na idade compulsória para aposentadoria
de magistrados, de 75 para 80 anos, para tentar tirar de Bolsonaro a
prerrogativa de indicar o sucessor de Celso de Mello.
Moro é neófito na política, daí por que os tombos que vem
levando nessa relação sejam compreensíveis. Bolsonaro, não. Que erre tanto e de
forma tão sistemática em tudo que exige um mínimo de sofisticação de raciocínio
é um bom indicador de por que seu governo patina tanto nesse começo.
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