‘Povo na rua não substitui articulação política’
Pela segunda vez em pouco mais de um mês apoiadores do
governo Jair Bolsonaro foram às ruas em sua defesa. Se no dia 26 de maio houve
ruído quanto à pauta – inicialmente de confronto com Legislativo e Judiciário,
para depois passar por um “retrofit” e tirar seu caráter autoritário –, desta
vez desde sempre se fixaram duas linhas-mestras: apoio à Lava Jato e a Sérgio
Moro e à reforma da Previdência. Mas qual o efeito concreto que esse apelo
recorrente ao povo na rua pode ter?
É claro que congressistas e mesmo ministros do STF não são
impermeáveis à pressão popular. Muito provavelmente o apoio a Moro e à Lava
Jato contou de alguma forma para que a Segunda Turma do Supremo não soltasse
Lula com base em uma liminar sem analisar o mérito do habeas corpus de sua
defesa, o que jogaria querosene no paiol da manifestação deste domingo.
Mas é pouco provável que palavras de ordem sejam definidoras
quando os ministros forem analisar a suspeição de Moro. A Segunda Turma vai
esperar a fotografia concreta dos vazamentos do The Intercept Brasil e, então,
decidir se alguns atos da Lava Jato devem ser revistos.
Da mesma maneira, o apelo à voz rouca da rua não exime o
governo de fazer a articulação política em que vem fracassando há seis meses.
Deputados e senadores não vão se intimidar diante de uma falsa narrativa que
tenta imputar ao Congresso, por exemplo, o atraso na reforma da Previdência.
Há uma tentativa de submeter os demais Poderes mantendo as
ruas aquecidas. Mas o apoio a Bolsonaro, por mais que seja ruidoso, não é
majoritário na sociedade, e as instituições são ciosas de suas prerrogativas.
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