O que Deltan Dallagnol e Sérgio Moro esqueceram
Alguns pontos chamam atenção na entrevista por escrito dada
por Deltan Dallagnol, chefe da Força-Tarefa da Lava Jato em Curitiba, ao jornal
Correio Braziliense, e publicada no último fim de semana.
Sobre as mensagens trocadas por ele com seus colegas
procuradores e com o ex-juiz Sérgio Moro, e divulgadas pelo site The Intercept,
disse Dallagnol que elas foram “descontextualizadas e até mesmo editadas”.
Recomenda a leitura dos diálogos como a melhor forma para se concluir que nada
revelam de criminoso.
Quer dizer: ele se nega a confirmar a autenticidade das
mensagens quando acompanhadas de comentários a respeito, mas os diálogos em
estado bruto, e somente eles, não. Foram tantas as mensagens divulgadas até
aqui que Dallagnol poderia ter apontado uma, pelo menos uma, que tenha sido
editada ou manipulada. Não o fez.
A Polícia Federal ainda investiga se os hackers de
Araraquara, que capturaram as mensagens e as repassaram ao The Intercept, foram
pagos ou não pelo serviço. Eles negam que tenham sido pagos. Mas Dallagnol, que
condena a interpretação apressada que se dá às mensagens de sua autoria, logo
se apressa em sugerir:
“Um dos presos tem longa ficha criminal que aponta a prática
de crimes por dinheiro. Um dos envolvidos chegou a dizer que o plano era de
vender as mensagens. É razoável supor que ele possa ter recebido para passar
minhas mensagens adiante. Até porque ele teve movimentações de ordem milionária
(…)”.
Como é um bom moço, preocupado antes de tudo em fazer
justiça, tem o cuidado de acrescentar:
“Mas é preciso aguardar o desfecho das investigações para
saber exatamente o que ocorreu. Confiamos na PF.”
Houve exageros na divulgação das operações policiais ao
longo da força-tarefa da Lava-Jato? – perguntou o jornal. Os crimes praticados
é que foram exagerados, respondeu Dallagnol. “Prestamos informações públicas
para a imprensa porque respeitamos sua importância na democracia”,
justificou-se.
A imprensa tem a obrigação de transmitir ao distinto público
tudo o que possa lhe interessar – de informações oferecidas pelos procuradores
da Lava Jato a informações descobertas sobre o modo como eles se conduziram à
frente da operação. Erraria gravemente se transmitisse umas e escondessem
outras.
Dallagnol queixou-se da imprensa:
“O que vemos é o enfraquecimento do direito à privacidade e
ao sigilo profissional para viabilizar a divulgação de fofocas, opiniões
pessoais, cogitações e mesmo de estratégias, planos e atos de investigação
legítimos. Isso tem prejudicado investigações em curso que tramitam sob sigilo.
Não há interesse público nisso”.
Ao vazar para a imprensa conversas particulares de Lula que
apenas mostravam o quanto ele é desbocado, telefonemas da ex-primeira-dama
Marisa Letícia para seus filhos onde ela dizia palavrões, e comentários chulos
feitos por líderes do PT, Dallagnol se preocupou com o “enfraquecimento do
direito à privacidade” dessas pessoas?
“Nunca ultrapassamos a linha da lei e da ética”, afirmou
Dallagnol. Foi ético escolher para divulgação apenas um dos 22 diálogos
grampeados de Lula no dia em que ele fora convidado para ser ministro de Dilma?
O diálogo escolhido deixou a impressão de que ele aceitara o convite só para
escapar da Lava Jato.
Se tornados públicos, os demais diálogos deixariam a
impressão contrária – e por isso foram guardados. Dallagnol e Moro respeitaram
“a linha da lei e da ética” ao procederem assim? O ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal, que barrou a nomeação de Lula, está convencido de que
não respeitaram.
Um procurador da Lava Jato, à época estarrecido com o
vazamento do diálogo matador entre Dilma e Lula, obteve de Dallagnol a seguinte
explicação: “Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é
político”. Quantas vezes na história da Lava Jato o “contexto político” não se
impôs ao contexto jurídico?
É a lei, seus estúpidos. Ela é que deveria prevalecer
sempre.
O desconforto da ministra
Bombeira
A deputada Teresa Cristina, ministra da Agricultura, uma das poucas peças que de fato funcionam no governo Bolsonaro, começa a sentir-se desconfortável onde está.
A deputada Teresa Cristina, ministra da Agricultura, uma das poucas peças que de fato funcionam no governo Bolsonaro, começa a sentir-se desconfortável onde está.
Além de fazer o que lhe cabe, ainda tem de se ocupar em
apagar incêndios ateados pelo presidente e os que lhe são mais próximos. Não
está sendo fácil evitar perdas para o país com a crise ambiental.
A ministra embarcou para uma visita de cinco dias a três
países árabes que ameaçavam comprar menos ao Brasil.


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