Chanceler usa notícia sensacionalista e cientista polêmico
em debate climático
Em sua mais recente investida contra o que chama de
“climatismo”, o chanceler Ernesto Araújo recorreu a uma notícia sensacionalista
que viralizou nas redes e citou um cientista controverso, que era financiado
pela indústria do petróleo.
O discurso do ministro na última quarta (11) na Heritage
Foundation, centro de estudos conservador nos EUA, cimentou a tentativa do
governo de dar tons ideológicos à discussão sobre a preservação ambiental. Nas
palavras de Araújo, a questão das mudanças climáticas ganha contornos de
conspiração global.
Em dado momento, o chanceler alertou: políticos e a mídia
começam a demonizar o consumo de carne. “Alguém sugeriu”, disse ele, “que nós
deveríamos recorrer ao canibalismo para salvar o planeta, deixando de comer
carne bovina, que destrói a Amazônia, na narrativa deles”.
Partiu dali uma crítica aborrecida ao que o ministro enxerga
como uma tentativa de usar as mudanças climáticas para limitar a soberania dos
países e, agora, controlar até o que as pessoas comem. “Onde está a dignidade
humana, o bom senso?”
A história do canibalismo jamais foi levada a sério no meio
científico, é claro. Foi lançada por um professor de marketing sueco que,
provavelmente, só queria aparecer. Há uma semana, o caso apareceu com cores
chamativas no site ultraconservador Breitbart, foi replicado por Donald Trump e
virou lenha para um debate baseado na desinformação.
Araújo também lançou dúvidas sobre temas relativamente
consensuais. Ao questionar os efeitos da ação do homem sobre o clima, citou o
pesquisador americano Patrick Michaels. O ministro só não disse que uma fatia
daqueles estudos era financiada por produtores de petróleo e carvão,
interessados nessa discussão.
O governo até pode ter razão em reclamar da contaminação do
debate climático por interesses econômicos. Se continuar buscando argumentos no
submundo das redes, no entanto, o chanceler vai empurrar a diplomacia
brasileira para a margem do debate internacional.


Nenhum comentário:
Postar um comentário